Ele aceitou de imediato.
Vamos sim. Há muito não jogo. Devo estar fora de forma. Mas recupero. A quadra está bem escolhida. Aceito sim. Certo. Hoje excepcionalmente no final da tarde. Os três. Combinado. Mas fica então este outro horário uma vez por semana. Perfeito.
Seguiu-se um rápido processo de escolhas. Compra de material necessário. Os velhos equipamentos envelhecidos pelo desuso – não mais aceitavam ordens. Digamos assim. Carregados de entusiasmo - compararam. Selecionaram. Esta marca é ótima. Este tamanho está adequado. Este horário fica então reservado.
E o que era apreendido num dia a dia de insone tensão - se reverteu em tranquila programação. Da cumplicidade. Da lúdica contradição com a própria lógica.
E lá veio o dia exato. Já com o processo estabelecido.
Pela primeira vez em muito tempo conferiu - expectante - a meteorologia.
Nada de chuva. Frio é o de menos. Acesso é um tanto faz. Não importa. O horário. Este sim – privilegiado. Já começou ganhando. Chegou cedo. Antes do agendado. Procedia.
Iniciou rindo e rindo continuou. Concentrou. Desconcentrou. Perdeu. Ganhou. Assim. Compromissado consigo mesmo. Um jogo compartilhado – mas solitário nas decisões. Mas nem por isso menos dividido. Uma magia.
O local ficava no alto de um prédio. A vista era espacial e especial. Tão especial como o recém adquirido entusiasmo. Parecia que céu e terra se moviam a favor. E deixavam que o corpo brincasse com a posse da nova sensação.
Entre saltos e braços erguidos. Entre saques e rebaixamentos. O mundo traduzia – inocente - as condições normais de temperatura e pressão. Uma filosofia se fez requerida – e respondeu presente. Perfeito.
O formal e o ritual se fazendo e se desfazendo. Dentro de cada tempo. E de cada um. Quase nivelado num mesmo simbólico. Compartilhado num mesmo real. O Imaginário tratado como deve ser tratado.
Combinado. Semana que vem tem mais.
Impossível não observar.
Vai ver foi o excepcionalmente. Muitas vezes uma única palavra pode produzir muito mais que centenas de atos seqüenciais. Ao menos foi o que pareceu. Ou ficou sugerido. Dava até para relembrar o mestre austríaco. Ou o mestre francês.
Impossível não questionar.
O que provoca um riso especial. Mais que o riso. Sobre o riso já tem tratados suficientes. O que provoca um entusiasmo. Ai sim. Uma questão quase mítica. O que faz alguém - de repente - entrar numa sincronia de festa. Num ritmo de projeção.
Pode-se até não saber por onde começa. Mas entende-se por onde percorre.
Percorre toda a força da emoção. E se instala no corpo. Quase um enlaçamento. Mas como algo do instante. Subitamente. E sincronicamente.
E no instante exato o corpo sabiamente acolhe. Numa obediência de rebeldia desconhecida.
Diferente de um corpo a caminhar correto e linear - ele se expande. E se proclama.
Impossível não compactuar.
Ele sempre cuidadoso. Atencioso. Muito mais do que se comportava - assim se portava. Rigoroso. Executante. E sempre ativado. Censor e sensor de si próprio. Órfão auto-imposto de desculpas e perdões.
Mas desta vez foi diferente.
Desde o momento em que o convite foi formulado. Desde a primeira sugestão. Escutou. Aceitou. Assim. Simplesmente. Sem maiores ou menores comprometimentos.
Como requisitado de fora de si mesmo. Ou adequado para dentro de si mesmo. Não importava.
O riso se fez claro. O projeto se fez objetivo. E a participação se fez efetiva.
Reorganizou a rotina. Revirou a memória. Aqueceu os músculos. Reconsiderou os limites. Dispensou banalidades. Repensou no já sabido. Recusou acertos com a estrutura.
Saiu - ao final de mais um dia de trabalho - dono de si mesmo.
E lá se foi junto com eles. Vai lá saber quem primeiro ergueu o braço. E deu o primeiro saque. Depois de tantos anos. Despertando antigos referenciais. E rindo dos erros e acertos - cada um se fez Presente. Passado. Futuro.
Estava confirmada mais uma nova etapa.
Se Alguém num acesso de curiosidade olhasse lá de Cima – certamente iria desejar descer. Entre raquetes e risos a Vida parecia regida de forma coerentemente perfeita.