Blog de Lêda Rezende

Junho 06 2009

Acordei hoje lembrando lá. Deste período lá.

 

Sim. Já comprei tudo. De supermercado também. Fica difícil ir ao supermercado agora. Ou falta tudo. Ou se encontra nada. Sem falar nos acessos. Que são alterados. A cidade fica muito cheia. Sim. Do mundo todo.

 

Muitos sotaques. Muitos idiomas. Uma Babel dançante. Ótimo. É verdade.

 

Um povo hospitaleiro. Disso não se discorda.

 

Acorda. Acordei já. Sim. Este ano começou mais cedo. Cada ano isso muda.

 

Começa mais cedo. E acaba mais tarde. Deve ser. É  verdade. Este circuito cada vez mais divulgado. Se pagam caro os hotéis têm esse direito. De ver da janela. Maravilha. Para eles. Para os hotéis. Até para as janelas.

 

Não escutei. Fala mais alto. Não escutei ainda. Fala mais alto ainda. Não.

 

Não consegui sair de casa. Está tudo bloqueado. Sim. E ainda tem aqueles vendedores. Isso sem falar nas cozinhas nas ruas. Parece que todas as cozinhas do mundo estão na minha rua. Tem cheiro e fumaça de todo tipo.

 

Daria para fazer uma enquete. Se alguém se interessasse. Por enquetes. Mais do que pelas frituras. Sim. Tudo aqui é frito. Muda só a cor. Mas é frito. O cheiro de fritura pode até ser tocado. Fica denso.   

 

Sim. Também pensei a mesma coisa. Achei que ia cair para dentro da sala. A porta da varanda. Que trepidação. Tive até uma confusão mental. Como se estivessem tocando aqui na sala. A noite toda. O dia todo. A porta só trepida.

 

E faz um barulhinho fino. Do metal. Do vidro. Vai lá saber. Nem sei mais.

Impossível. Se deixar aberta - arrisco uma ruptura de tímpano. Se fechar - o calor fica insuportável. Sim. Tem que ligar o ar condicionado. O tempo todo.

 

Mas daí a trepidação parece que aumenta. Fosse eu Física diria que tem um novo efeito.  Aqui. O efeito tampão. Ou efeito sucção. Ou efeito dobrado. De tudo isso ao mesmo tempo. Sei lá. Também não sou Física. Só está me dando desespero. Porque se fecha e liga o ar - parece que a trepidação aumenta. E o cheiro das frituras - entram. Sei lá por onde. Só entram e ficam. Aqui dentro. Perene.

 

O telefone. Não escutei. Não dá para escutar mesmo. Nada além do ritmo. E dos convites. Milhões de vezes repetidos. Tira o pé do chão, galera. Se realmente obedecessem tantas vezes quanto solicitados - teríamos um novo espaço. Aéreo. Levitação. Nem indiano conseguiria. Tantos.  

 

Há quatro dias. Sem parar. Devem parar. Mas não aqui. Aqui nem bem passa um, já vem chegando outro. E a ordem prossegue. Tira o pé do chão, galera.

 

Você queria descer a ladeira. Para ver de perto. Ver o que exatamente.

 

Porque se não souber tirar o pé do chão - corre risco. De ficar com o pé no chão. Por uns dois anos. Com fraturas. Cominutivas. Nem pensar.

 

Não me diga. E ele correu. Por isso acabou no hospital. Dizem que não se pode correr. Tem que ficar parado. Procurando um cantinho. Para deixar passar a onda. Que onda. Ou melhor, que passar. Não passa. Só nas Cinzas. E cinzas de todo o tipo.

 

Tira o pé do chão, galera. Pela milionésima vez. Em quinze minutos.

 

PeloamordeDeus. Tirem logo esse raio de pé do chão.  A voz era de homem. Agora mudou. É de mulher. Não de homem. Não. De mulher. Não importa. Só a ordem importa.

 

Porta. Acho que vai quebrar a vidraça. Tem muita trepidação. Será que alguma vez me livro disso. Vou pedir para o Universo. Alguém tem que me ajudar. A tirar o pé – fora daqui.

 

Que silêncio. Absoluto. E os passarinhos mais ousados - cantando o seu refrão. Reconheci. É um bem-te-vi. A brisa está leve. Sim. Vou tomar um pouco de sol. Dar um mergulhinho. Está tão lindo o dia. E a cidade tão calada. Há apenas o som forte - do silêncio.

 

Aqui é só em determinado lugar. Ou pré-determinado. Estabelecido. Tem Lugar para isso. Nem sei se aqui mandam tirar o pé do chão. Vai quem gosta. E só quem gosta vai. Vai-Vai.

 

Liguei a televisão. No canal que retransmite de lá. A mocinha gritou no microfone. Tira o pé do chão, galera.  

 

Sorri. Leve. Solta. Voltamos para o sol. E para o nosso adorado silêncio – optativo.  

 

Com os pés – relaxadinhos – no chão.

    

 


Junho 01 2009

Devem já ter inventado algo melhor. Mas naquele momento só pensava nisso. Obsessivamente. Não poderia existir sensação melhor. Nem certeza mais evidente. Ou planejamento mais adequado. Sequer idéia mais agradável.

 

O momento ia chegando e eu me despojando. Encerrando as formalidades. Liberando a escuta. Despertando o instinto primitivo. Trazido pelo encanto. Como por um encanto, melhor referindo. Entre o abrir e fechar de pálpebras – respirava alegria.

 

Assim entrei em casa. Muitos quilômetros de trilhos depois. Na sexta feira.

Já começando a anoitecer.  Bendita sexta feira. Folga de final de semana.

 

Inteirinho. Sem compromissos profissionais. Sem tarefas. Sem relógios. Sem programação definida. Um feliz excesso de sem.

 

A meteorologia informava. O clima estava oscilante. Mas nem me incomodei.

Em geral tudo é oscilante.

 

Não parei para pensar - nesta observação filosófica. A de que tudo é oscilante. Deveria. Filosofia é assim. Se você a deixa inquieta é porque ela está certa. Quase como um axioma. Rimado - mas nem por isso menos verdadeiro.

 

O jantar se propunha maravilhoso. A música escolhida em conjunto. Sentamos diante de nós. Diante da mesa. O rubro na taça dava um toque mais profundo.  O colorido do cardápio sugeria uma certa leveza. A mistura dos aromas indicava uma celebração. Nossas vozes emolduravam os assuntos.

 

Sim. Estava inaugurado o final de semana. Podia ser repetitivo. Semanal. Lógico. Mas sempre é festejado quase como único. Porque dá o ponto final. Na lista de obediência. Final-de-semana deveria ser definido como Final-de-Obediência. Por que é o que se faz. Desobedece-se regras socialmente estabelecidas. Para se privilegiar regras individualmente reconhecidas. Perfeito.  E como dizia o Frances. Só se repete o que não tem completude. Ainda bem. Pensei eu.  

 

De repente - uma nova sensação. Melhor dizendo. Uma sensação nova. Mais forte. Mais contundente. Isso para não dizer objetiva. Decidi fingir que não via. Ou que não era comigo. Endereço errado.

 

Não funcionou.

 

Aquela dorzinha não saia de perto. Das costas. Dos braços. Dos olhos. Até dos joelhos. Dorzinha xifópaga. Assim parecia. Porque para onde eu virasse – ela virava junto. Até para onde eu olhasse. Ela se permitia também olhar.

 

Me recusei a admitir.

 

Mas ela não estava predisposta a rejeição. Ou a discussão. A dorzinha. Queria se fazer destacada. Queria atenção.

 

Admiti.

 

Sai da mesa. Do som escolhido. Do colorido dos pratos. Do rubro na taça. E fui verificar o que se passava. Um frio percorreu todo o corpo. Mas percebi que não percorreu o ambiente. Um frio talvez mais egoísta. Com mania de privacidade. E escolheu a mim. Apenas a mim.

 

Não terminei o pensamento.

 

Uma tontura impetuosa me fez pensar na frase do mexicano. Sim. Nunca mais. Mas nem era mexicano o tal rubro. E eu nem tinha ainda começado. Deveria ser forte. Fazia efeito no tocar dos dedos no cristal. Vive la patrie. Dele. Porque a minha estava acabada.

 

 

Aquele apitinho foi decisivo. Demorou um pouco a se manifestar. Mas quando veio foi com um estilo dissociativo. Apitou de um lado. Cai deitada do outro. O frio egoísta se impondo. Não havia volume que desse conta. Nem em número. Nem em plumas. Nem em penas.

 

Engolir comprimido tremendo deveria ter algum mérito. Processo também dissociativo. A mão não obedecia ao que a boca – disponível - aguardava. O braço não obedecia ao que a mão - ansiosa - intentava. Nada parecia ter ordem.

 

Daí me lembrei. Do pensamento filosófico. Em geral tudo é oscilante.

 

Foi o último pensamento eficaz. Que me lembro. Estava assim decidida a programação do final de semana.

 

As regras seriam ditadas por um apitinho. Os festejos em volta de um comprimidinho. A dança compassada por um frio egoísta. A parceria evidenciada pela gemelaridade. Corpo e dor. Maestros rígidos e explícitos.

 

Conclui. Entre calafrios. Filosofia rimada nem sempre é verdadeira.

 

Em geral – nem tudo é oscilante. 

 

 

 


Maio 22 2009

Decidira assim. De repente. Abriria uma vaga na rotina. Até riu depois que assim nomeou.

 

Toda arrumada para sair. Desistiu. Voltou. Nunca na vida tinha feito algo sequer parecido. Era rigorosa em sua rotina. Não faltava ao trabalho. Não chegava atrasada. Uma metódica compulsiva. Vai lá saber o que lhe dera naquele dia. Mas decidiu por acatar a sua vontade. Que seja feita, então.

 

Ficaria o dia em casa.

 

Telefonou para o escritório. A faxineira atendeu. Avisou que não iria. Estava adoentada. Riu de novo. Estava mesmo. Doente de vontade de ficar em casa. O marido sairia logo depois. Tiraria o dia para si. E dentro da sua própria casa. Quando a diarista chegasse, pediria para não incomodá-la.

 

Que fizesse de conta que ela não estava ali.

 

Assistiria a um filme. Dormiria mais um pouco. Tinha que organizar uns documentos. Faria isto no final do dia. Quando o tédio ou a culpa ameaçassem substituir o prazer do ócio. Ai uma tarefa seria útil. Na casa tinha um pequeno escritório. Embaixo da escada. Com um pequeno sofá.

 

Colocou um dos seus clássicos preferidos bem baixinho. Tirou a roupa formal e deitou. Recurvada sobre si mesma, cobriu-se com uma manta. E começou a ler um livro.

 

Escutou uma voz. Era a voz da diarista. Falava com alguém ao telefone. E dizia que já estava tudo certo. Sairia sim. No final do mês. Não. Não tinha avisado ainda. Tudo de última hora. Falou assim. Tudo de última hora. Não queria mais. Trabalhar em lugar com terraços e jardins. Lá para onde ia era um apartamento. Nem vasinho de planta tinha. Só as salas necessárias e vazias. Riu. Fez algum outro comentário que ela não entendeu. E desligou.

 

Se sentiu espiã em sua própria casa.

 

Nem bem pensou isso e escutou outra voz. Também ao telefone. Era a voz do marido. Combinava algo. A voz estava suave. Gentil. Combinava um encontro. No final da tarde. Sim. No de sempre. Eu sei que você adora. Nada de última hora. Falou assim. Nada de última hora. Outro carinhoso para você. Riu. Fez algum outro comentário que ela não entendeu. E desligou.

 

O no de sempre a fez sentir um frio. Congelou. Pior que o outro carinhoso. Pior que a tal ausência do vasinho de planta. Tudo ou nada - de última hora. Quase pegou um agasalho que estava pendurado num cabide junto à porta.

Mas ficou com uma dúvida. Entre pegar o agasalho. E se enrolar. Ou pegar dois agasalhos. Um para cada um. A diarista. E ele. Porque eles é que ficariam congelados. Quando a vissem.

 

Optou pelo efeito assombração. Saiu debaixo da escada.

 

Falou um bom dia. Atrás dela. Da diarista. Ela se virou. Pele pálida. Parecia cristalizada. Avisou calmamente. Já está liberada. Pode ir.

Ela se desculpou. Chorou. Disse que estava arrependida. Que adorava ela. Que adorava trabalhar para ela. Que tinha sido um mal entendido. Perdão. Coisas de imaturidade. Nada resolveu.

 Liberou a diarista lecorbusierista.

 

Subiu as escadas.

 

Falou um bom dia. Atrás dele. Do marido. Ele se virou. Pele pálida. Parecia cristalizado. Avisou calmamente. Já está liberado. Pode ir.

Ele se desculpou. Chorou. Disse que estava arrependido. Que adorava ela. Que adorava morar com ela. Que tinha sido um mal entendido. Perdão. Coisas de imaturidade. Nada resolveu.

 

Liberou o marido dongiovannesco.

 

Tomou mais uma decisão. Telefonou para o escritório. Confessou a mentira que inventara. Ele a liberou. Deste e de todos os dias futuros. Diferente dos outros libertados, disse apenas obrigada. Passaria lá a qualquer hora para os acertos.

 

Abriu os olhos. Ficou paralisada. Depois deu um pulo. O marido estava diante dela. Arrumado para sair. Até riu quando a viu assustada daquele jeito. Parecia um sono tão bom. Não quis lhe acordar. Desculpe se assustei.

Devia ter subido. Lógico que não iria me incomodar. E ainda ficaríamos um pouco mais juntinhos. Fez bem em ficar em casa. Você anda muito cansada.

 

Pegou o livro que estava caido no chão. Deu um beijo nela. Desejou bom dia, querida. Jantamos fora hoje, não esqueça. Já fiz as reservas. Nada de última hora. E no de sempre.

 

Passou um tempo até compreender. Depois sorriu. Muito feliz.

 

Da janela cumprimentou a diarista que, cantarolando, regava as plantas do jardim.

 

 


Maio 10 2009

Maravilha. Foi a primeira palavra que me veio à mente. Nada para fazer. Dia de folga. Escolher. Foi esta a segunda palavra que pensei.  Fiz questão de acordar mais cedo. Para poder decidir com calma. Como usar meu tempo útil. Num dia chamado de inútil. Tempo útil é o que se utiliza para si próprio. Mesmo que englobe o outro. E inútil é mesmo aquele que é só protocolar. Acaba não envolvendo a ninguém. Calendário é algo pessoal e intransferível.

 

Enfim. De imediato cedi à opção mais simples. Pelo menos na primeira parte. Da folga. Assim a administraria. No mesmo lugar. Onde ficava fazendo elucubrações sobre o nada fazer.  O filme começou. Despretensioso. Animado. Fugaz. Ao menos assim pensei. Mas nada é tão fugaz nem banal. Nem mesmo um filme na sessão matutina de um dia dito inútil. Tolo engano.

 

Vivas para o ócio.  Só o ócio pode permitir os possíveis efeitos intelectuais. Não há enredo que não remeta à vida cotidiana. Aos aprendizados cotidianos. Como dizia a minha avó. É do corriqueiro que a Filosofia é construída, menina, é do corriqueiro. 

 

Ele explicava. Só tirava fotos das pessoas de costas. Sempre. Achava que era o ângulo fiel. Onde as pessoas não se ocultavam. De frente era impossível descobrir a sinceridade. As pessoas mentiam com os olhos. Disfarçavam com a boca. Iludiam com as expressões faciais. Nunca se capturava o verdadeiro de alguém de frente. Mas de costas este verdadeiro não escapava. Não tinha como ser impedido.

 

Achei perfeito.

 

E me vi de repente bem longe do lugar real. Em segundos já estava percorrendo os caminhos das situações não definidas. E re-construindo o mundo - pelas costas. Quase ri.

 

Lembrei dela. Sempre tão altiva e irônica. Desafiadora. Com suas decisões baseadas na praticidade. Lembrei das costas delas. Um pouco curvadas. Andar não tão firme. Denunciando todo um cansaço e fragilidade revertidos.

 

Lembrei dele. Com atitudes até pueris diante da vida. Mas de costas tem um porte nobre. Altivo. Como se soubesse tudo que transportava. E quisesse garantir a fragilidade da carga muito mais que de si próprio.

 

Ele. Sempre delicado. Toque leve. Olhar mais de sério que de alegre. Com suas costas largas parece muito mais impor que expor. Ou busca muito mais se impor que se expor. E, tímido porém seguro, caminha.

 

Ele. Sempre atento. Carinhoso. Alegre. As costas têm um discreto desvio para um lado. Como se tentasse dividir um pouco do que, firmemente, carrega.

 

Não faltaram costas. Dia Nacional das Costas. Não faltaram exemplos. Dos mais sérios aos mais banais. Olha-se diante de um espelho. E se vê a frente. Não inventaram ainda. Um espelho que permita toda a visão. Ainda bem.

 

Acredita-se no que se vê.

 

Agora até ri. Lembrei dos salões ditos de beleza. Após toda uma arrumação. Após todo um evento dedicado à vaidade. Após toda uma reorganização de imagem. Sempre tem alguém que vem com um espelho. E nos mostra o que está por trás. Daquela imagem. Retocada. Ou quando se compra uma roupa. Sempre alguém pergunta. Se está bom nas costas.  Interessante.  O espelho que mostra o que há por trás. É bem menor do que o outro. O que mostra o que tem pela frente.

 

E isso sem falar nas fotos turísticas. Sempre se dá as costas para o que se foi visitar.

 

Mas o mais bonito do filme foi o final. Um olha para o outro de frente. E diz. Eu não sou quem você pensa. Genial. E eu a dizer que estava assistindo a um filme – como foi mesmo – despretensioso, animado, fugaz.  Devia estar cristalizada.

 

E assim fiquei. A deixar o dia se transformar. Só não sei se de inútil a útil. Ou se de útil a inútil.

 

No final da manhã tomei uma decisão. Melhor ir caminhar. Pela avenida.

 

Ou entre a Avenida e a Alameda.  Em algum lugar vou ver o mundo. Ou vou me ver. De costas.

 

 


Maio 07 2009

Estava decidido. Passaria o final de semana em casa. Lendo. O livro dele - a fascinara. Mais uma vez. A cada nova frase lida – quase uma hora de silêncio. Tentando entender todo o processo. O que gerou a frase. E o que a frase gerava. Até riu. Seria lido com calma. Não sabia por quanto tempo. Não que fosse volumoso. Em páginas. Era volumoso fora das páginas. Maravilhoso. Ele era e sempre seria seu autor favorito.

 

Havia o título. Começou a se apaixonar desde o título. Na hora nem se dera conta. Do por que o título também a atraíra. Assim são os livros. Ou os autores. Escrevem uma idéia. E são desapropriados dela por quem os lê. Assim. Desde o titulo. Enfim. Que cada um se utilize do fato. Como sendo fruto do próprio ato. E em meio às páginas sigam as duas trajetórias. Compondo e descompondo a cada nova linha.   

 

Era um mar calmo. O céu estava azul. E fazia aquele barulhinho doce. Suave. De ondinhas quebrando. Na areia. Tudo que uma criança compreendia. Tudo estava ali. Ela era bem pequena. Não diria corajosa. Era afoita e curiosa. Talvez termos mais adequados.

 

Lembrava do final de tarde na praia. Em especial daquele final de tarde. Ele veio e perguntou. Quem queria passear de jangada. De jangada. Ele estava ao lado dela. Recusou. Temeu. Ela concordou e o abraçou. Considerou prudente. Não ir.  

 

Ela olhou. Para o mar. Para a jangada. Para as pessoas que iriam. Sorriu. Decidiu e avisou. Eu vou. Assim. Com a voz de criança. Com a decisão tranqüila. Que só as crianças sabem ter. Não temem pelas escolhas. Porque não temem ainda pelas perdas. Para as crianças o mundo realmente gira. E trás de volta o que não pode ser escolhido num mesmo momento. O depois - é logo ali. Não existe a possibilidade do nunca mais. E quando existe o nunca mais a tradução é outra. É como um talvez. A infância é sempre talvez.

 

Enfim. Deu a mão a ele. Entrou correndo na água. E subiu na jangada.  

 

A jangada dançou. Na água salgada. Com pontinhos brilhantes aqui e ali. Balançando. Alternando as madeirinhas. Dentro e fora da água. Ele ficava de pé. Segurava o remo. Um banquinho de madeira amparava uma sacolinha. Uma rede. Se ninguém ia sentar – ela também não iria. Também ficou de pé.  

 

Ela segurou na mão dele. E sorria. Feliz. Olhou de volta para a areia. Ele ainda estava lá. Abraçado a ela. Sentiu aquela pontinha de orgulho. Não recusara a enorme aventura. Deve ter até erguido mais a cabecinha. Mas disso não lembrava. Lembrava dos pés. Lembrava que olhou para os pés. E viu que a água entrava por entre as madeiras. E daí por entre seus dedinhos. Fazia cócegas. Achou maravilhoso. Maravilhosa a sensação.

 

O jangadeiro olhava para ela e mostrava o mar.

 

Explicava o mar. Ela atenta. Nunca mais na vida esqueceria aquela explicação. E nem esqueceria que para entender o mar é preciso uma explicação. O mar não é assim tão simples. Água. Sal e onda. O mar é outro lugar. Que também tem suas curvas e suas retas. Seus mistérios e seus códigos. Tudo vai depender da explicação. E do conhecimento. De quem o apresenta. Sempre que ia para o mar - lembrava dele. E da seriedade com que explicava. E a concentração que ela ficava. Para que nada deixasse de ver.

 

Escutando e olhando. Sentiu-se diante de uma majestade.  

 

Ali ficara não por muito tempo. Aprendendo sobre jangadas e mar. Sobre mar e coragem. Sobre riscos e efeitos. Hoje sabia que fora um passeio curtinho. Na época se sentiu uma desbravadora. Como se há dias no mar.

Riu das lembranças.

 

O livro, que estava no colo, escorregou. O segurou antes que caísse. Releu o título. Aí então compreendeu. Acariciou a capa. Sorriu. Olhou para os próprios pés. Brincou com os dedos no tapete. Em terra firme como na água. O que valem são as sensações.

 

Lembrou da amiga. Que tinha um amigo indiano. Um dia ela lhe contara algo que ele falara.

 

É preciso um espaço para que a pena flutue – tranqüila. 

 


Abril 21 2009

Desta vez a ligação foi diferente. Nada de alegria na voz. Muito menos de comemoração. Não se festejou. Nem se falou em macarrão no desjejum. Hoje a dieta era fria. Com sabor de nada. Talvez acrescentado o amargo do fruto. Já tão proibido.

 

Parecia aflita. Aflita de realidade. É sempre difícil este tipo de aflição. Sobrecarrega. E não deixa espaços. Por isso não se consegue dissimular. Nem com a fantasia. Ficar na realidade por muito tempo tira o fôlego. Causa compressão nos músculos. Provoca uma dor que não se sabe onde. De tão pesada e difusa.

 

Descobrira uma verdade. Segundo ela. Concluíra a verdade. Do impedimento. Não era geografia. Não era paternidade. Não era sequer solidariedade.

 

Tinha uma atitude explícita. Estava com ódio de si mesma. Por que não entendera isso antes. Justo ela. Que convivia tão bem com os escondidinhos da alma. Com as entrelinhas dos discursos. Vivia disso. Vivia para isso. Para entender o que ninguém explicava. E explicava o que ninguém compreendia.

 

E agora estava confusa. Sem compreender. Nem a ela. Nem ao outro. Por que se não se entendia, como iria entender o outro. Era cada vez mais proibitivo. O tal testemunho. O tal julgamento.

Por um tempo se enganou. Jurou ter se equivocado. Tanto afirmou que quase acreditou. Mas podia lhe faltar tudo. Menos aquela dose certa de lucidez. Mesmo que na hora errada.

 

Chorou.

 

É preciso sempre estar atento. Ao que o outro exige. Nem sempre a proposta é de parceria. Parceria envolve a dois. No mínimo. E parceria é assim. Quando se vê já está estabelecida. Assim. No silêncio. Como dizia aquele poeta alemão. Onde uma palavra jamais pisou.  Sem discussão. Até sem nomeação. Parceria é só atitude. As palavras são moldura. Efeitos decorativos. Por isso prescindíveis. Ele descartou. Obstaculizou. Assim ela falou. Entre lágrimas e retórica. Ou entre lágrimas retóricas. Muitas vezes esta é a mais importante função da lágrima. Função retórica. Funciona bem para desavisados. Ele utilizou com grandeza este recurso. E na hora ela acreditou. Mais por necessidade do que por ingenuidade. Naquele momento se duvidasse perderia o prumo. Achou prudente acreditar. E se não podia sofrer junto com ele, ao menos sofria ao lado dele. Forma triste de parceria. Isso ela compreendeu. Parceria solitária.

 

Ele confirmou. Nada de ímpetos. Nada de mudanças bruscas. Deixaria assim. Voltaria para onde tinha saído. E torcia para que nada lá tivesse mudado.

 

Foi o que descobriu. Ele só tinha um único compromisso. E de exclusividade. Com ele mesmo. Só. Assim. Claro e destacado. Se estava bom, prosseguia. Se não estava, descartava. Se oscilava, partia. Mas tudo dentro de um acordo tácito. Nada que precisasse da aprovação do outro. Aprovação do outro já significava parceria. E isso ele indeferia. Tal um documento. Sem emoção.

 

Lembrei de uma orientação da minha avó. Quando estiver difícil consolar, sorria com delicadeza, menina, sempre sorria com delicadeza.

 

Sorri. Sorrimos. Depois rimos. De tudo. Do acordo. Do desacordo. Do engano. Do eu-bem-que-falei. Do champagne estourado em silêncio. Do perfume interditado. Da negação. Da contemplação. Não faltou ação. A distância de nada impediu. E ele foi sumindo. Nas palavras. Na retórica. Nas lágrimas. E quando o sorriso finalmente venceu, ele desapareceu. Ele e o compromisso solitário.

 

Ela ficou com as lembranças. E fez delas suas parceiras. Junto com o sorriso. Por um tempo seriam companheiras. Depois já não se sabe. 

 

 

 


Abril 16 2009

Não dava para acreditar. Aliás. Dava para acreditar. Não dava era para compreender. Minha avó sempre me disse isso. Fique atenta no que acredita e não compreende, menina, fique atenta. Às vezes penso que escutei pouco a minha avó. Vai ver por isso encontro mais problemas. Que soluções.

 

O lugar era adequado. A cafeteria uma delicadeza. Isso sem falar naquele burburinho. Vozes sussurradas fazem mais efeito que gritadas. Todos ali sussurravam. Dando seu estilo musical nas entonações. Nos pequenos silêncios. Como uma partitura. Numa sequência sem maestro. Mas com cadência. Assim era o ambiente. Uma quase orquestra. De sons. E tons. Até de sotaques. Uma exposição cautelosa das idéias. Em pianíssimo. Em alegretto. Até cabia um allegro ma non troppo.

 

O olhar veio antes. Era um olhar lúdico. O corpo todo veio depois. Mas tinha uma sintonia com o olhar. Deveria ser mesmo um lugar que gostava. Que frequentava. Ou que tentava frequentar. Com o olhar percorria os lugares. E buscava o seu. Vago. Uma mesa. Uma cadeira. Um assento. Onde pudesse abrigá-los. Corpo e olhar. E o riso. Ria como se para alguém. Conclui.

 

Deveria ser o alguém interior. Uma daquelas comemorações festivas. Entre ego e superego. Ou entre ego e alter ego. Vai lá saber.

 

Algo de repente ficou errado. Nesse momento o olhar mudou. Já não era mais lúdico. Era um olhar envelhecido. Ele veio na direção dela. Com ar de desagrado. Gesticulando para ela. Com desaprovação. O corpo em sintonia com o olhar. Desagradável. O dedo substituiu a fala e apontou faltas. Muitas faltas. Faltava lugar. Faltava tempo. Faltava espaço. Parecia que apenas sobrava espera. Desconforto. E dedos. Ele gesticulava. Ela observava.

 

Parecia hesitante, mas atenta. Por segundos retirava o olhar dele e olhava o espaço. O ambiente. Ele insistiu.O olhar dela mudou. Era agora um olhar resignado.

 

Ele foi à frente. Deu as costas. Ela o seguiu. Iam sair. Fiquei pensando no porque da concessão. Nas mil razões das concessões. Durou pouco meu pensamento. Não cheguei nem na segunda razão. Até respirei aliviada. Vi que ela voltou. Voltou. Quase dei um pulinho da cadeira. Que teria acontecido. E com ela um novo olhar. Olhar de decisão. Ia ficar. Quase aplaudi. Me contive. Ele ainda ficou por um instante de pé. Diante dela.

 

Reprovou. Apontou. Resmungou. Acatou.

 

Enquanto ela sentava, ele foi buscar o café. Estava irritado. Expressão de tédio, como ela diria se o estivesse vendo. Pensei. Este deverá ser o café mais caro do planeta. Mas ela deve saber o que faz. E se tudo tem um preço, que seja pago antecipado. Acompanhado de uma parcela de prazer. Procede. E vai ver sempre tem uma forma de evitar juros.

 

Era alta. Magra. Elegante. Porte ereto. Gestual delicado. Fugia ao comum. Tinha cabelos brancos. Não tingidos. Longos. Presos com uma fivela sofisticada. Uma roupa despojada e adequada. Já sentada, sorriu. Para quem estava em volta. Me incluí. Elogiei a decisão. Fez um olhar de surpresa. Não se imaginava observada. Agradeceu. Com singeleza. Com tranqüilidade.

 

Ele vinha em direção dela. Segurando a bandeja. Tentando equilibrar irritação, aceitação, cobrança futura, café e bolinhos. Não devia ser fácil. A expressão estava insegura.  Desta vez ela o recebeu com um outro olhar. Olhar de irreverência.

 

Sabe-se lá porque perguntei se era escritora. Nem sei de onde tirei esta idéia. Mas perguntei. Ela respondeu. Com serenidade. Com uma voz firme. Não. Sou atriz. Devo ter feito uma coletânea de todos os olhares dela. Em mim. Ao mesmo tempo. Pelo jeito que ela me olhou. Sorri. E parabenizei. Com entusiasmo.

 

Lembrei da minha avó. Agora sim. Acreditei e compreendi. E o contrário também vale.

 

 


Março 27 2009

E lá estavam todos. Conforme o demandado. Conforme o combinado. Para a noite festiva. Como um brinde de Martini impresso. Sem esquecer as azeitonas. Genial.

 

Quando cheguei já o vi. Sorridente. Bonito. Alegre. O vermelho da gravata em compasso com a alegria pelo encontro. Parecia cansado. Mas atento. E feliz. Para todos sorria. Um sorriso acolhedor. Além do exclusivo profissional. Competente em ambos.

 

Todos foram aos poucos se agrupando. Um temporal havia brindado o trânsito pouco antes. Mas os convidados foram chegando. Juntos. Separados. Daqui. Dali. De lá. Felizes. Todos se sentindo dentro do intitulado no convite.

 

Rimos muito. As três. Com um espaço tão maravilhoso. Uma vista panorâmica de arrepiar. E iniciamos a noite bem ali. Justamente ali. Nada elegante. Mas, repensando. Apropriado.  Sim. Sempre se pode dar mais um retoque. Um treino. Rimos por conta disso. Diante do espelho. Falando ao mesmo tempo. As três. Mas com total compreensão do falado. Individual e coletivo.

 

Nos reunimos a eles. Comidas e bebidas adequadas no lugar adequado. Mais uma vez. E os risos. Principalmente os risos. Este é o meu som preferido. Risos em burburinhos. Aqui e ali. Isso sem falar nos olhares. Estes sim. Denunciavam bem os motivos. Por todos estarem ali. Com ou sem temporal.

 

Olhar é muito mais pragmático do que riso.

 

Ele veio de lá. Foi apresentado. Se apresentou. Parecia surpreso, constrangido e disposto. Tudo ao mesmo tempo. Todos se conheciam por escrito, digamos assim. Difícil falar com a letra. Afinal, letra não tem tom de voz. Não tem sotaque. Não tem mímica. Muito menos coletividade.

 

Na letra o exercício da solidão ganha sempre o primeiro prêmio.

 

É nessas horas que entendo os escritores. Poetas. Até os Pintores. O silêncio. Mas foi nesse Lugar. Com letra maiúscula que a letra expôs sua face. Mostrando suas imagens. As emoções já haviam sido demonstradas. Naquele outro mundo paralelo onde todos nós acabamos por nos identificar. Simbolicamente. Esta noite foi diferente. Foi a noite do corporalmente. Inclusive corporativamente. Procede.

 

Depois das apresentações já fui logo agradecendo. Pelo Lugar que me deu. Pelos Campos.  Nos dois mundos. E informo. Surgiu uma nova malinha. A de sorrisos. Lembrei da minha avó. Sempre me ensinou. Os sorrisos vão e voltam, menina, vão e voltam.  

 

Todos se apresentaram a ele se reportando às citações anônimas. Onde cada um estava num escrito. Desconheço apresentação mais verdadeira. Cada um se expondo e se impondo. Via um texto. Seu Lugar no texto. Eles também. Ele ainda ajudando com a bolsa.

 

De repente ele mesmo, o meu querido e gentil amigo da bolsa, resolve me dar mais notícias. Sobre novos lançamentos. Não achou suficiente o susto do escritor lusitano. Agora mais esse. O fato limitante. Dos pobres mortais nos quais me incluo. Como se não bastasse cada vez que visito os escritos dele.

 

Sempre me sinto na Idade Média. Na velha e boa Idade Média que tanto quis ter vivido. Ele faz isso com malvada sabedoria. Ver as fotos e ler o texto que ele escreve já me coloca no túnel do tempo. Seriam aqueles lá carros. Ou seria este objeto que fica em minha garagem. Difícil. Só não vou dizer que esta é uma das outras linhas difíceis de demarcação porque esta não é. A linha é bancariamente visível. E a Ilha é bem conhecida.

 

Depois outro susto. Então era ela. A autora de tantos testes. Do alto da sua delicadeza se revelou. Muito riso. A bolsa quase caiu do ombro dele. com o pulo que eu dei. E naquele mesmo espaço que eu também circulava. Com escritos técnicos. De sim e de não. Ela com o “se” e eu com os “sim e não”. 

 

Vai ver foi por isso. Nunca soubemos uma da outra. E circulávamos com nossas letrinhas com tanta tranqüilidade. Numa exposição de idéias e de “se”. Não esqueço os testes dos “se”. Se você é ciumenta. Se você é ansiosa. Se você é tímida. Se você tem baixa auto-estima. Nem lembro mais. Lembro que tentei responder alguns. Eu era tantos “se” positivos que desisti.  Me vi sem cura. E até bendizendo a psicóloga do passado. Como ele me disse dia desses. Mesmo sendo tão jovem. Já tem tanta sabedoria. Não é que as pessoas não mudam. As pessoas não aprendem. Ele está certo. Melhor ler sobre os novos automodelitos!  E acreditar que essa coisa de teste pode ser maravilhosa. Para uns. A mim nunca beneficia. Rimos com a descoberta.

 

Notei que uma das participantes do Lugar estava sozinha. Sem jeito. Tensa. Imaginei o quanto é complicado estar num lugar e não estar ao mesmo tempo. Sim. Porque percebi que ela só queria fugir. Mas tinha que ficar. Igual letra de samba canção. Um lenço vermelho no pescoço parecia uma corda.

 

Por onde de vez em quando ela repetia o mesmo gesto. Esticava. Acho que vou aconselhar aos menos avisados. Em situações de desconforto. Deixem os lenços em casa. Já que têm que levar os pescoços. Ri. Mas fui até ela.

 

Convidei para se integrar. Agradeceu. Percebi que sentiu uma pontinha de alívio. Um amparo. Não é possível. Inacreditável. Ela. A mocinha do lenço vermelho. A responsável oculta pelo espaço dos testes do “se” e dos escritos técnicos. Conclusão quase copiando o paradoxo do grego. Todos os mundos são pequenos.

 

E assim foi a noite. Do Martini digitalizado à possibilidade real de risos, sustos e surpresas. Acho que na dose igual. Com o passar das horas foi se esvaziando. Cada um buscando seu norte. Solidários. Isolados.

 

Ele me abraçou. Falou em tom suave para mim. Disse que estava muito feliz. Pela noite. Por mim. Pelas conquistas. Em terrenos tão desconhecidos. Pela coragem na exposição. Foi o que falou. E repetiu.

 

Quando saímos, ofereceu-se para levá-lo até o local indicado. Ele que viera de tão longe. Chovia e estava frio. Viajaria no dia seguinte. De volta para lá.

Acredito que teve algum excesso de bagagem. Uma de mão. As imagens de cada um. As outras três mais pesadas deve ter despachado. Uma de exclamações. Outra de sorrisos. E a maior de todas. Esta sim. Pagou caro pelo excesso. Da amizade conquistada.

 

Mas acho que vale! Tomara que ele concorde! Com este excesso! 

 


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