Blog de Lêda Rezende

Março 29 2009

De repente lá estava a Vida emboscando os métodos.

 

Lembro o dia da chegada deles. De cada um em especial. Vai ver por que foi nesta época. Agora são dias de festejos. Tempo de festejos. A cada ano se renova a emoção. Eles sempre riem de mim. Por que a cada ano aviso que esta sim, é uma data especial. Pelos anos vividos. E eles sempre respondem. Que falo isso todo ano. É verdade.

 

Mas falo porque realmente acho. Que cada etapa vivida, seja de calendário, seja de emoção, é sempre única. Eis algo que não se pode repetir. Quando chega se bate palmas. No dia seguinte já acabou. E é seguir para aguardar a próxima. Que será, de novo, única.  

 

Chorei pelos dois. E dizem que só se chora pelo primeiro. Que a emoção é mais precipitada. Pela descoberta.  Pela iniciação. Sei lá mais o que dizem. Não conheço nada mais cantado. Em prosa e verso. Esculpido.  Pintado. Redesenhado. Referendado. Poderia aqui fazer um novo tratado.

 

Nem sei quantos já vi representados. De forma eterna. De forma prosaica. Dos sacros aos profanos. Do clássico ao cubismo. Sempre a busca pela representação perfeita. De um afeto. De uma nova função. Muitas vezes de uma esperança. Sobram estilos. Sobram cores. Sobram frases. Mas falta sempre a verdadeira exposição. Acho que afeto é assim. Uma força de expressão.  Eufemismo persistente diante do que realmente se sente.

 

De nada serve tanta informação prévia.  Experiência alheia. Teorias antigas. Modernas. Técnicas. Nada. Só no momento em que se instala é que cada uma vai poder sentir. E vai repetir. A constante busca da palavra perfeita. Da expressão perfeita. Para definir.

 

Avisei que não conseguia falar. Que estava perdendo a voz. Todos riram.

 

E ele disse em tom irônico. Que nunca tinha visto alguém falar tanto. E avisar que estava sem voz. Tudo isso antes. Imediatamente à tremedeira. Às tremedeiras, melhor dizendo. Porque tudo que aconteceu na primeira vez, aconteceu na segunda. Mesmo que com um hiato de alguns anos. Parecia reapresentação. Tudo igual. Mais uma vez. Tremi nas duas vezes.

 

Incontrolável. Tremia tanto. Sacudia todo o corpo deitado. Todos em volta riam. Todos eram amigos. Mas não compreendiam. Lembro de um detalhe especial. Por causa da tremedeira.  Seguraram meu queixo. E espantados comentavam.  Nunca souberam de alguém que precisasse ter o queixo segurado.  Neste tipo de situação. Para que a finalidade fosse cumprida.  Precisei. Seguraram com força. Bendigo até hoje esse ato de generosidade. Não me restaria um só dos necessários a uma boa mastigação.

 

Mandavam parar. Mandavam acalmar. As ordens vinham aos montes e de todos os lados. Mandaram até pensar em outra coisa. Nesta hora quase ri. Como. Como poderia pensar em outra coisa. Que coisa seria essa. Que boa idéia tiveram. Em segurar meu queixo. Assim pude transparecer educada. Que sorte. A deles. Pensamento não sai em legendas. Como nos desenhos animados. 

 

Como disse certa vez, o corpo não obedece a ordens. Pelo menos as de fora. Quando decide se comandar nada mais o impede.  E o meu estava se comandando do jeito que achava que devia. Tremer também é forma de expressão. É festejo. Hoje sei disso. Na época não sabia.

 

Só tremia.  Nunca mais tremi assim na vida. Só essas duas vezes.

 

Quando chegaram, cada um na sua época, o corpo parou de tremer. Chorei nas duas vezes. No início só falava e avisava que não tinha voz. No depois não conseguia falar. Como se a voz não tivesse mais importância alguma.  Por um instante me fiz silêncio.

 

O silêncio era diferente dos que já tinha vivido. Inegável.  Era silêncio povoado. De emoções mistas. E individuais. Não conseguia dividir com ninguém o que sentia. O que estava começando saber.  A conhecer. A aprender.

 

Me fiz colo. Me fiz olhar. E me desfiz e me refiz em sorrisos. Até hoje.

 

Não posso esquecer o poetinha que nos advertia deste – para sempre - logo depois. Dos pedidos fervorosos de salvação. Do choro de desespero por qualquer ameaça de sofrimento. Da solicitação eterna de proteção divina. Terrena. Angelical. Não há santo em descanso no depois. Nem bem se encerra um apelo e já vem muitos mais em seguida.

 

Agora se completam tantos anos. Nos festejos têm tantas vozes. Muitos se agregaram. Outros se foram. Somos mais que antes e menos que antes - ao mesmo tempo. Há lugares vazios nas fotos e lugares preenchidos na memória. Risos novos e lágrimas velhas. O inverso também procede.

 

Mas a magia da vida se faz valer. E faz valer a Vida. Continuando.
Ano após ano. A cada ano.

publicado por Lêda Rezende às 19:05

o choro é a maneira da nossa alma lamentar o sofrimento e as lagrimas a maneira de o nosso corpo se ressentir da dor que é levada pela agunia e vontade de chorar... Mas tal como tu dizes a vida é uma dadiva mágica e dura sempre num ciclo que se vive ano apos ano, mes apos mes e dia apos dia para nos lembramos que tudo o que nos fez sofrer já foi ou será compensado um dia...

Beijos e boa semana bah com o desperta-dor lol
Teresa Isabel Silva a 30 de Março de 2009 às 23:16

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