E lá estavam todos. Conforme o demandado. Conforme o combinado. Para a noite festiva. Como um brinde de Martini impresso. Sem esquecer as azeitonas. Genial.
Quando cheguei já o vi. Sorridente. Bonito. Alegre. O vermelho da gravata em compasso com a alegria pelo encontro. Parecia cansado. Mas atento. E feliz. Para todos sorria. Um sorriso acolhedor. Além do exclusivo profissional. Competente em ambos.
Todos foram aos poucos se agrupando. Um temporal havia brindado o trânsito pouco antes. Mas os convidados foram chegando. Juntos. Separados. Daqui. Dali. De lá. Felizes. Todos se sentindo dentro do intitulado no convite.
Rimos muito. As três. Com um espaço tão maravilhoso. Uma vista panorâmica de arrepiar. E iniciamos a noite bem ali. Justamente ali. Nada elegante. Mas, repensando. Apropriado. Sim. Sempre se pode dar mais um retoque. Um treino. Rimos por conta disso. Diante do espelho. Falando ao mesmo tempo. As três. Mas com total compreensão do falado. Individual e coletivo.
Nos reunimos a eles. Comidas e bebidas adequadas no lugar adequado. Mais uma vez. E os risos. Principalmente os risos. Este é o meu som preferido. Risos em burburinhos. Aqui e ali. Isso sem falar nos olhares. Estes sim. Denunciavam bem os motivos. Por todos estarem ali. Com ou sem temporal.
Olhar é muito mais pragmático do que riso.
Ele veio de lá. Foi apresentado. Se apresentou. Parecia surpreso, constrangido e disposto. Tudo ao mesmo tempo. Todos se conheciam por escrito, digamos assim. Difícil falar com a letra. Afinal, letra não tem tom de voz. Não tem sotaque. Não tem mímica. Muito menos coletividade.
Na letra o exercício da solidão ganha sempre o primeiro prêmio.
É nessas horas que entendo os escritores. Poetas. Até os Pintores. O silêncio. Mas foi nesse Lugar. Com letra maiúscula que a letra expôs sua face. Mostrando suas imagens. As emoções já haviam sido demonstradas. Naquele outro mundo paralelo onde todos nós acabamos por nos identificar. Simbolicamente. Esta noite foi diferente. Foi a noite do corporalmente. Inclusive corporativamente. Procede.
Depois das apresentações já fui logo agradecendo. Pelo Lugar que me deu. Pelos Campos. Nos dois mundos. E informo. Surgiu uma nova malinha. A de sorrisos. Lembrei da minha avó. Sempre me ensinou. Os sorrisos vão e voltam, menina, vão e voltam.
Todos se apresentaram a ele se reportando às citações anônimas. Onde cada um estava num escrito. Desconheço apresentação mais verdadeira. Cada um se expondo e se impondo. Via um texto. Seu Lugar no texto. Eles também. Ele ainda ajudando com a bolsa.
De repente ele mesmo, o meu querido e gentil amigo da bolsa, resolve me dar mais notícias. Sobre novos lançamentos. Não achou suficiente o susto do escritor lusitano. Agora mais esse. O fato limitante. Dos pobres mortais nos quais me incluo. Como se não bastasse cada vez que visito os escritos dele.
Sempre me sinto na Idade Média. Na velha e boa Idade Média que tanto quis ter vivido. Ele faz isso com malvada sabedoria. Ver as fotos e ler o texto que ele escreve já me coloca no túnel do tempo. Seriam aqueles lá carros. Ou seria este objeto que fica em minha garagem. Difícil. Só não vou dizer que esta é uma das outras linhas difíceis de demarcação porque esta não é. A linha é bancariamente visível. E a Ilha é bem conhecida.
Depois outro susto. Então era ela. A autora de tantos testes. Do alto da sua delicadeza se revelou. Muito riso. A bolsa quase caiu do ombro dele. com o pulo que eu dei. E naquele mesmo espaço que eu também circulava. Com escritos técnicos. De sim e de não. Ela com o “se” e eu com os “sim e não”.
Vai ver foi por isso. Nunca soubemos uma da outra. E circulávamos com nossas letrinhas com tanta tranqüilidade. Numa exposição de idéias e de “se”. Não esqueço os testes dos “se”. Se você é ciumenta. Se você é ansiosa. Se você é tímida. Se você tem baixa auto-estima. Nem lembro mais. Lembro que tentei responder alguns. Eu era tantos “se” positivos que desisti. Me vi sem cura. E até bendizendo a psicóloga do passado. Como ele me disse dia desses. Mesmo sendo tão jovem. Já tem tanta sabedoria. Não é que as pessoas não mudam. As pessoas não aprendem. Ele está certo. Melhor ler sobre os novos automodelitos! E acreditar que essa coisa de teste pode ser maravilhosa. Para uns. A mim nunca beneficia. Rimos com a descoberta.
Notei que uma das participantes do Lugar estava sozinha. Sem jeito. Tensa. Imaginei o quanto é complicado estar num lugar e não estar ao mesmo tempo. Sim. Porque percebi que ela só queria fugir. Mas tinha que ficar. Igual letra de samba canção. Um lenço vermelho no pescoço parecia uma corda.
Por onde de vez em quando ela repetia o mesmo gesto. Esticava. Acho que vou aconselhar aos menos avisados. Em situações de desconforto. Deixem os lenços em casa. Já que têm que levar os pescoços. Ri. Mas fui até ela.
Convidei para se integrar. Agradeceu. Percebi que sentiu uma pontinha de alívio. Um amparo. Não é possível. Inacreditável. Ela. A mocinha do lenço vermelho. A responsável oculta pelo espaço dos testes do “se” e dos escritos técnicos. Conclusão quase copiando o paradoxo do grego. Todos os mundos são pequenos.
E assim foi a noite. Do Martini digitalizado à possibilidade real de risos, sustos e surpresas. Acho que na dose igual. Com o passar das horas foi se esvaziando. Cada um buscando seu norte. Solidários. Isolados.
Ele me abraçou. Falou em tom suave para mim. Disse que estava muito feliz. Pela noite. Por mim. Pelas conquistas. Em terrenos tão desconhecidos. Pela coragem na exposição. Foi o que falou. E repetiu.
Quando saímos, ofereceu-se para levá-lo até o local indicado. Ele que viera de tão longe. Chovia e estava frio. Viajaria no dia seguinte. De volta para lá.
Acredito que teve algum excesso de bagagem. Uma de mão. As imagens de cada um. As outras três mais pesadas deve ter despachado. Uma de exclamações. Outra de sorrisos. E a maior de todas. Esta sim. Pagou caro pelo excesso. Da amizade conquistada.
Mas acho que vale! Tomara que ele concorde! Com este excesso!