Blog de Lêda Rezende

Março 22 2009

Durante muito tempo eu recriminava o Universo por me ter colocado vivente, digamos assim, ou existente – para dar um certo toque filosófico - no século XX. Sim. Vivia repetindo. Queria ter nascido na Idade Média. Época dos galanteios. Dos castelos. Das muitas salas. Do espaço. Dos cavaleiros. Das tapeçarias. Das roupas femininas cheias de mil-saias. Das festas. Do romantismo exagerado.


Quanta bobagem. Qual nada. Idade Média tem muitas faltas. Falta principalmente a comunicação. Ou melhor, a rapidez na comunicação. Anos para uma carta atingir seu destino. Aliás, outros tantos para se escrever uma carta. Agora lembrei daquele filme. Em que ele escrevia a carta sobre as costas nuas de uma mulher. Para outra mulher. Tudo bem. A Idade não era Média. Nem as mulheres. Nem o escritor. Nem a idéia. Enfim. Isso é o de menos. Menos mediano. Ri. Ainda bem que agora existe outro tipo de mesinha. Com tanta rapidez atualmente iria faltar costas de mulher.  Isso sem falar na quantidade. De escritos.


Por isso também agora mudei de idéia. Nada de queixas ao Universo. À ordem de chegada.  Mudei radicalmente. Viva o século XXI. Nasci até adiantada. Vai ver que o XXII será ainda mais dirigida. A comunicação. Vai ver na base da transmigração. Metafísica palpável. Sabe-se lá. O futuro sempre comporta mais fantasia que a nossa vã realidade pode suportar.


Mas o século XXI já está bem animado.  Acho que num prazo mínimo de quinze dias me inclui. Numa família. Leram. Recomendaram. Comentaram. Me fizeram chorar. Me fizeram rir. Vale mesmo uma exclamação para cada um!!  Até porque irmão sempre tem que ter tudo igual. Desde pequenino. Ri. Só não sei se eles vão rir também.

Agora me sinto incluída.  Rapidamente.


Imagina na Idade Média. Até os irmãos serem localizados. Não devia ser fácil a numeração dos castelos. Vencer poços com jacarés. Sem falar na saúde dos cavalos. E dos seus cavaleiros. Vencer as doenças. Correr por tantas estradas. Atalhos. Cruzar rios. Tudo isso segurando os pontos de exclamação. Vai ver por isso havia tanta luta na Idade Média. As lanças atiradas de longe. As espadas arrancadas de pedra. As brumas. O cálice perdido. As maçãs flechadas em cabeça de filho. As florestas com os ardis. Tira-se de quem tem mais. Para se dar a quem tem menos. Ou o contrário. Vai lá saber. Cada um legislando os dotes. Muita confusão.


Quanto tempo duraria a entrega das exclamações. Quando chegassem ao destino já seriam interrogações. Ninguém mais se lembraria do que se tratava. Pior ainda. Os destinatários poderiam ter viajado. Mudado de castelo. E virariam reticências. E como reticências ficariam perdidas. Até que algum dia alguém desse a elas um ponto final. Sem nunca terem atingido seu objetivo. Com muita sorte virariam talvez um hífen desses, colocados de qualquer jeito para que figurassem em algum cartório. A serem estudados no século XXI. Numa tese francesa sobre O Desaparecimento das Exclamações na Idade Média.


Sempre ficaria em cada vírgula, uma dúvida. Desta agora gostei. Daria até uma frase do dia. Embora sempre justifique um ponto de seguimento. As frases do dia. Para que sigam mais frases no dia seguinte.


E nisso tudo ainda me preocupam. As exclamações. De que adiantaria uma mala cheia delas. Se nunca alcançariam seu destino. Se duas já seria complicado a entrega. Imagina a minha mala como ficaria. E naquela época também não era mala. É verdade. Eram baús. Procede. Agora entendi.


Que sorte a minha. Deixei o Universo sempre assustado. Com a queixa temporal. O Universo querendo que eu entendesse a escolha. O tempo. A distância. A rapidez. E eu reclamando. A minha avó já me alertava. Deixa de ser renitente, menina, deixa de ser renitente.Estava certa.


Ponto final. Curei.


Viva o século XXI e a entrega rápida das exclamações!!

 

 



Não sei o que vai acontecer aqui em Portugal, mas no Brasil o blog de Lêda Rezende causou e causa muito furor dentre aqueles que amam como eu a literatura que nasce com a fronte ungida pelo sal do talento definitivo. Ler Lêda é um previlégio para os que se dão conta de sua grandeza. Sou fã de primeira hora e nunca me arrependi um segundo.
Edmundo Carôso a 22 de Março de 2009 às 15:08

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