Blog de Lêda Rezende

Dezembro 05 2009


Acordou no horário adequado. O dia da retomada chegara.

 

Parecia título de filme de guerra. Até riu. Nem sabia de onde tirara a ideia. Mas já que veio – permaneceu. Esta nova fase obediente estava já cronificando. Mas enfim. Quem sabe será uma etapa valorosa. Confiava nos pequenos revezes. Pequenos – olhou de soslaio em sinal de advertência – ao Universo.

 

Eis aí. Já batendo na porta. O Dia da Retomada. Não tinha montes. Nem castelos. Nem barricadas. Nem arco. Nem flecha. Nem espada transfixada em pedra.

 

Era apenas o reinício. Continuaria exatamente de onde tinha parado.

 

Cedo desceu. Com calma. Sem atropelos. Ainda estava convalescendo. Um passo errado e lá se ia tudo a perder. Nem pensar. Ainda estava bem na borda da memória tudo que sentira. As dores. Os desconfortos. De perfeito só a nevasca no sétimo andar. Doce e suave fruto de uma simples e objetiva medicação. No mais - a realidade não poupou sinais de efetiva presença.

 

Mas corajosa – enfrentara. Este mérito não permitia avareza. Principalmente de si mesma. Sobrava ego. Elogiava-se. Congratulava-se. Mais um pouco e se medalhava.

 

Diante de tanto - ele ria. Divertido. Já afeito ao estilo dela – concluiu. Está melhorando rápido. Esta já é quase ela. Sábio.

 

Mas acabou. Agora era tratar de possibilitar a rotina. Axioma imediato. Nada existe no mundo que seja mais apressado do que a rotina. Em se restabelecer. Quando avisada – já tem que ser. Um verdadeiro e perfeito instantâneo. Nem bem se pensa e já está lá. Cumprindo as funções. É tão acelerado o processo que demora a compreensão exata do tempo.

 

Enfim.

 

Obedeceu. Lembrou até da música. Como era de costume. Não era. Mas estava. Por um tempo recente. Só não garantia a durabilidade do estilo subserviente. Vai lá saber quando tudo muda.

 

Mas se deu um direito. Pensar e refletir. Mesmo esta palavra que sempre rejeitou. Refletir. Mas não lhe ocorreu outra no momento. Ficou com esta mesmo.

 

Rotina deveria ter um significado especial no Dicionário. Lembrou uma definição que lera há pouco tempo. Num dia de provável muito ócio – e nenhuma criatividade.

 

Pesquisara esta palavra. Rotina.

 

E lá encontrara.  Num dos mais conceituados. Caminho habitualmente seguido ou trilhado; caminho já sabido.  Hábito de fazer as coisas sempre da mesma maneira, maquinal  ou inconscientemente, pela prática, imitação. Hábito inveterado que se opõe a inovações ou progresso. Feitio e espírito conservador. Relutância contra o que é novo. Costume antigo.

 

Deu vontade de escrever para o autor. Pode até ser o que eles definem. Não iria discordar de tamanho estudo. Ou conclusão. Mas podia ao menos reclamar. Avisar. Vai ver não notaram. Ou então não vivem uma - Rotina.

 

Informaria. Com delicadeza. Mas com absoluta firmeza. Falta completar. Rotina é praticamente um ser. Um ser objetivo e de pouca conversa. É autoritária. Impiedosa. Demandante. Qual uma retórica de si mesma. Algo por aí. Mas nada fez. Devia ainda ser o efeito da nevasca. A tal do sétimo andar. Riu.

 

Todo este complicado processo durou o tempo de lá chegar. O percurso. Tanta exacerbação neuronal num trajeto. Quase riu. E com tantos cuidados no caminho. Tinha que estar atenta. Afinal – era uma convalescente ainda. Perfeito.

 

Chegou. Tudo estava tão igual. Em tão curta ausência - tão longo afastamento.

 

Sentiu-se um pouco alheia. E um pouco participante. Sensação estranha. Voltar e retomar pareciam mais simples vistos de casa. Ou - durante a discussão. Com o inocente autor de dicionário.

 

Subiu. Abriu a porta da sala. Ela cuidadosa – já deixara o protocolo em local habitual. Esperou que chegasse - com beijos e abraços. Tudo estava arrumado. O material específico na pasta preta. A listagem da agenda na posição correta da chamada. Tudo disposto do jeito que ela gostava. Até a cortina já estava aberta.  

 

Nova e deliciosa descoberta. Simples. Mas prazerosa. Tinha retomado. Reiniciado. Recuperado.

 

Rotina – também - é Vida. Sorriu feliz.  

 

Chamou o primeiro atendimento.

 

 

 


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