Blog de Lêda Rezende

Julho 24 2010

 

 


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Julho 09 2010

 

Desde que acordara sentia-se como num funil. Um funil especial. Funcionava em torno dos pensamentos. Um ia trazendo outro - e mais outro. E mais outro.  Como se a intenção fosse afunilar numa ideia única.

 

Até temeu. Vai lá saber onde consciente e consciente se juntam numa demonstração da existência. Mas prosseguiu.

 

Sentia-se tão cansada que custou a acreditar que já era a tal hora. Foi cumprindo o ritual que há tempos deixara de ser nomeado como rotina. Uma espécie de birra com o destino. Você segue por onde comanda e eu sigo por onde nomeio. No dia que concluiu este quase axioma – falou alto. Escutou a própria voz.  Daquela vez - não negava – temeu até pela própria sanidade. Imagina acordar e ir avisando as novas formulações ao... sabe-se lá quem.

 

Com o tempo afastou de si o temor. Insanidade vem sempre associada a uma certa euforia. O temor é o que chega por último – quando a sanidade já  está devidamente afastada. Ainda não se considerava neste outro extremo. Parecia conviver com uma certa imparcialidade com o extremo oposto. Enfim.

 

Fez o que tinha que fazer enquanto o tal funil ia lá se construindo por tijolinhos aparentemente aleatórios. Por um segundo o russo professor de dramaticidade entrou associado ao funil. E ao cone que tanto lhe ajudara.  Agora sim. Estava prisioneira - dos pensamentos. Um funil de frente e um cone de cima. Até soltou um pouco mais o cachecol que enrolava o pescoço.

 

Continuou nos atos. Persistiu nas atitudes. Conferiu as vicissitudes. Tudo feito. Desceu pelo elevador. Subiu a ladeirinha. Chegou ao caminho dos trilhos.

 

A manhã estava fria. Uma nevoazinha suave tonalizava em especial as pessoas e os prédios. Dava uma sensação de que o mundo todo estava sob fina e discreta levitação.

 

Entrou. Escolheu o assento. Acomodou-se dentro do que parecia confortável. Parecia.

 

Dispensou o funil quando sentiu a bolsa trepidar. Chegara um recadinho. Dela. De lá. Do além mar. Onde o verão parecia muito mais zangado do que a vã meteorologia previra. Um forte calor deixava a todos em posição de intimidade. Com o desejo de ser delineado apenas pela pele. E vontade compulsiva de tirar a roupa. Um verão audacioso – podia-se assim chamar.

 

Ela iniciou a comunicação avisando do calor. E ela de cá imaginando o horror. Sempre – sempre detestou calor. Era até cômico este horror. Afinal nascera e crescera na parte de cima do mapa. Lá sim - ou se tirava a roupa ou o calor tirava a pele. Riu ao lembrar. Mas voltou para o recadinho.

Haveria uma festa de aniversário. Na semana anterior havia sido uma festa de casamento. Bodas. Uma festança. Comidas. Bebidas. Danças. O que há de melhor – pelo melhor. Agora se organizavam para outra festa. Seria o aniversário dela. Da cunhada. Acordara para organizar o cardápio. Por certa sopa fria. Mas não faltariam os assados – nem os abrasados. E os doces. Aqueles maravilhosos doces que os de além mar sabem tão bem expressar a arte.

 

Neste momento da leitura – houve uma parada. Os trilhos estavam sob um enorme peso. Um pouco mais atenta e por certo teria escutado um gemido Todos pareceram ter a mesma ideia. Na mesma hora. E – no mesmo espaço que ela estava. Teve uma impressão persecutória. Será que os outros espaços estavam vazios. Será que aquele tumulto era somente no espaço que ela ocupava.

 

Assim ficou entre alguns – sim. Outros – não. E muitos – talvez.

 

Mas voltou para o recadinho. Leu letrinha por letrinha. Lá estava o recadinho.

 

Aqui está um calor infernal.  Passa bem dos 30 graus. Ai não dá vontade de fazer nada. Mas ela inventou de dar dois almoços.  Um sábado, para os colegas de uma viagem ano passado. Outro no Domingo para a família -  é aniversario dela.
E quem ajuda sou eu.  Estou aqui pensando nos aperitivos - saladas e sobremesas. Amanhã vamos lá arrumar as mesas e fazer o gaspacho. Como tem que ter sopa -  vai ser sopa gelada.
E assim vamos passando de festa em festa.Eta vida dura.
Beijos

 

Começou a se controlar para não rir. Assim então era o tal funil – aliado do cone russo. Acordara cedo. Lidara com rotinas e rituais. Subira ladeira. Entrara no caminho dos trilhos. E agora essa. Sentia-se já além mar. imaginou o calor de lá. As duas festas. O gaspacho. Se viu com ela – rindo uma da outra como habitual. Até relaxou e recostou

 

Olhou em volta. As pessoas se amontoavam. Algumas mãos buscavam os amparos para que nenhuma queda ocorresse. Bolsas e sacolas dançavam de um lado a outro. A maioria dos sentados - cochilavam. Outros atentos – observavam o vai-e-vem. Com a lotação esgotada – o calor começou a se infiltrar. E já se iam braços esticadinhos saindo de casacos e malhas. Dos pescoços desenrolavam rápidos - os cachecóis. Uma ou outra buscava rapidamente uma forma de prender os cabelos.

 

Resolveu responder ao recadinho. Acomodou-se o mais discreta possível. Segurou a alça da bolsa. Concentrou-se na resposta. Algo bem simples. E com a objetividade que o espaço e o desconforto permitiam.

 

Estou arrasada agora. Eu sobre os trilhos. Seguindo rumo às tarefas. Sonolenta ainda. Diante de uma temperatura flutuante – digamos assim. E você me esnobando. Aguarde. Aguarde. Risos tenebrosos.

 

Colocou de volta na bolsa. Estava perto do local da descida. Foi juntando alças e coragem. Ficara até com calor depois que leu o recadinho dela. Estava se divertindo – isso era inegável. Estava ali tão sozinha. Sentadinha. E de repente circulava entre duas festas e uma sopa gelada. E mal tinha acordado. Eis algo que ela adorava. A facilidade contemporânea da comunicação. A linha desfeita com rapidez entre mares e climas. Era fascinada.

 

Sentiu mais um trepidar na bolsa. Até duvidou. Repetiu. Sim. Alguma nova mensagem. Vai ver mais alguma festa em algum outro mar. Ia deixar para verificar depois. Mas não conseguiu. Curiosidade também é companhia em determinadas situações.

 

Abriu a bolsa rapidamente. Leu o recadinho.

 

Sorry. Mas agora sou a socialite da região.

 

O local de descida chegou. O final do caminho se fez. No local determinado – entrou rindo. Com expressão de festa. Na recepção uma delas notou e perguntou o que vira de tão maravilhoso. Ela respondeu.  Uma festa com sopa gelada e uma conversinha com uma socialite. E tudo num calor de mais de trinta graus. E com os trilhos carregados de tanto peso.

 

Elas não entenderam – por certo.  Mas riram.

 

Ela entrou para o atendimento. Nem notara o tempo de percurso. Estava feliz. A facilidade da comunicação de nada valeria sem uma amizade associada. Eis a verdadeira magia.

 

Num intervalinho que teve - escreveu avisando. Aguarde minha resposta. Fica atenta. E prosseguiu nas tarefas e decisões – com uma leveza suave e solidária.

 

O dia acabou. Refez o percurso de volta. Era véspera de feriado prolongado. Comemorara bem cedo. A véspera. O feriado. E o prolongado. E num fuso só.

 

Adorou.

 

 


Julho 03 2010

 

Ela veio toda feliz. Rindo à toa. Sonhara anos - acho - com este específico momento. E o momento estava chegando.

 

Sempre nos demos muito bem. Dizem que é uma relação difícil. Para nós nem tanto. Sabemos enxergar os limites. De uma. De outra. Das duas. Até do mundo em relação a nós.

 

Chegaram no final do dia. Depois das tarefas cumpridas. Deitou relaxada. Ele deitou ao lado. Ficamos conversando. Amenidades. Como se faz numa despedida. Despedida de situação. De identidade.  Se é que isso existe. Acho que não. Ninguém se despede da identidade. Não tem véu que consiga. Sempre ela vai conosco. Aonde formos. Em qualquer estado. Religioso. Civil.

 

Também me recostei na cama. Como dizia minha avó, é preciso ter modos quando se está de vestido. menina, é preciso ter modos quando se está de vestido Acho que esqueci por um instante este sábio e elegante ensinamento. Deitei-me bem esparramadinha. O vestido subiu um pouco.

 

Fosse uma peça de teatro eu diria que foi o Ato I.

 

Porque nem bem deitei  e ela deu um grito e um pulo da cama. Agradeci aos deuses. Enfim não sou apenas eu quem toma susto. Chega de tanto susto. Agora deixa para os demais. E desta vez foi ela. Um pulo e um gritinho. Não sei mais se nessa ordem. Explicou. Reclamou. Não acreditou quando viu. O presente que dera a ele. Eu usava. Riu. Riram. Não acreditou umas dez vezes. Porque era isso que repetia. Umas dez vezes. Não acredito. Ria. Eu portava o objeto. Sei que estranho. Mas portava. Podia ser dele o presente. Mas achei que combinava comigo. Não o presente em si - digamos assim. Mas o tamanho. E a textura. Ele se divertia. Como quando criança. Por isso parecia uma despedida. Porque todos ficaram crianças e adultos. Ficamos. De repente. No susto. Deitados e rindo.

 

Mas o pior ainda viria. Agora poderia ser o Ato II.

 

Ela não esperava se surpreender tanto. Até porque eu nunca usei antes. Na vida toda. Sempre discreta. Sempre discreta e atrás de uma pilastra. Desta vez resolvi mudar. Ou melhor - acrescentar. Estou numa fase de acréscimos. Ri. Avisei de um fôlego só. Daí ela que ficou sem fôlego. Ela agora que faz concursos de susto. Falei. Séria. Comprei cílios postiços. Muita risada. Ela repetia. Cílios postiços. Aimeudeus.

 

Eu comentava. Imagina se choro na cerimônia. Vai ficar um traço peludinho em meu rosto. Ou se a cola escorre e cola os de cima com os de baixo. Vou assinar em tudo. Na parede. Nas costas de alguém. Nos docinhos. Porque não vou enxergar. Comecei a imitar muitas cenas. Eu piscando os olhos e o ventinho levantando as franjas. Os véus. A batina. O tule francês. Os papéis. A cada piscada minha um ventinho. E completei.  Malvada eu. Ela também comprou. E os dela têm pinguinhos de brilho. Ela quase desmaiou. Se conteve. Citou frases a respeito de família. De por um arrastar muitos. E eu só olhava. E ria. Pois é. Os dela têm brilho. Luminosos. Cílios luminosos. Vamos ficar lindas. Vai ser confortável. Porque sempre é um lugar de muito calor. E vamos fazer uma ventania agradável.

 

Ela me olhou. Rindo e séria. Bem ao estilo dela. Ele só ria. Fazia parte. Eu gesticulava. Sempre imitando o piscar plumoso. Ela riu com o termo. A última coisa que desejava no dia era um piscar plumoso. Mas rimos. Abraçamos. Compartilhamos. Descemos para a cozinha. Brindamos. Nestes dois dias que precedem o ato sonhado - Entendemos os caminhos da vida. Do crescimento. De criança. De adulto. De festa. De evolução. De família. De famílias.

 

Como disse antes. Uma relação fácil. A nossa. Mesmo com tantos ventos e plumas.

 

Daqui agora pisco o meu peludo olho. E com muitas lufadas. De ar fresco. Com todo o excesso de boa sorte. Aos dois! Sem sustos. E com muito ponto de exclamação. Já que agora tenho uma mala cheia de pontos de exclamação - Para os momentos de comemoração.

 

Este é um dos momentos!!!!

 

publicado por Lêda Rezende às 20:48

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