Blog de Lêda Rezende

Outubro 08 2009

 

O dia amanheceu lindo. Só cores.

 

Céu azul. Brilhante. Desta vez nem era o habitual azul turquesa. Era azul brilhante. Intenso. Acolhedor. Ficou ali. Olhando e buscando adjetivos. Fazia tempo que não amanhecia assim. Ou vai ver ela que não amanhecia assim.

 

Aberta para o colorido do mundo. Enfim.

 

Debruçou-se na murada. E ficou em silêncio. Olhou para cima. Teve aquela boa impressão. O céu estava perto. Sentiu-se assim. Perto do céu. Até sorriu. Vai ver era assim no verão. Mas já não tinha certeza.

 

Quase concordou com a amiga que falou sobre o esquecimento do corpo. É verdade. O corpo vai se habituando. E passa a entender cada estação como única. Como se nunca tivesse conhecido outras. Incrível. Por isso de repente – o susto.

 

E diante do susto - fez o indicado. Vestiu o verão.

 

Deitou-se na cadeira. Deixou o sol aquecer a pele. Os cabelos soltos voavam com leveza. Estava sem compromisso nem temor.  Um calor calmo invadiu até os pensamentos. Mal respirou. Não queria que nada afugentasse aquele prazer. Ou se fosse um sonho – nada que causasse o despertar.

 

Bendisse o inverno. Pela amnésia. O inverno se esqueceu de lá naquele dia. E deixou que as cores do verão enfeitassem um pouco a cidade. O verde das árvores em frente ficou mais verde. O amarelo de alguns prédios- mais amarelos.

 

Tudo ia assim. Muito prosaico. Poético.

 

Ela teve uma idéia. Contaria a ele. Ele que vivia sob o sol. Que morava lá de onde ela viera. Que não sabia de cor cinza. Nem de casacos pretos. Nem de meias grossas. Contaria a ele. Mas de uma forma especial.

 

Avisou.

 

Hoje o dia aqui não parece inverno. Estou no terraço. Tomando sol. E decidi até fazer algo que nunca faço.

 

Decidi tomar uma cervezza. O zol eztá tão bonito. Eztá um dia de verão. E tive ezza ideia. Uma cervezza. Nunca bebo liquidoz com álcool. Hoje dezidi exxperimentar. E vozê não zabe o que acontezeu. Os Aztroz vieram pazzear aqui. Em meu terrazzo. Todos elez.

 

Vai ver devo beber líquidoz com álcool. Nunca havia vizto os aztroz. E eztão bem aqui. E não param de girar. É verdade. Como giram. Que aztros mais felizez. Tomara que não ze ezbarrem unz noz outroz. Seria uma tragédia cózmica. Ze forem dezastradoz.  Dezculpa. Interrompi o recado para rir. Aztro dezastrado é perfeito.

 

Ele de lá respondeu. Surpreso. Rindo. Assustado. Como assim. Deu conselhos. Informou dos riscos. Ordenou limites. Relembrou a ela – quem ela era.

 

Ela continuou. Um rezidente de Zaturno acabou de perguntar por vozê. Rezpondi que tudo bem. Que vozê eztá ótimo. Ze quizer alguma menzagem – aproveita que ainda eztão aqui. Não pararam de girar. Maz não zairam daqui do terrazzo. Imagina ze aquele fizico zoubezze dizzo.

 

E assim ficou nesse vai. Vem. Vai.

 

Enviou o último. Ele quer que eu deza para almozar. Falou que não quer converzar com o povo de Zaturno. Vou dezer. Até maiz.

 

Parou o recadinho. Encerrou a lista de z.

 

Sentada em sua cadeira. Olhou para o céu. Para aquele lindo céu azul brilhante. Tranqüilo. O terraço sem astros. E por um tempo ficou ali. Bem sentadinha. Bem longe das cervejas. Diante do sol.

 

Fez assim sua mais nova descoberta. E teve uma sensação maravilhosa.

 

Entendeu a muitos. E a si mesma. Ou vai ver sempre soube. Só não formalizara. Não importava. Não há lógica nas sensações. Nem ordem classificatória. Sensação procede - da desordem. Ainda bem.

 

Compreendeu as infinitas possibilidades da letra. Os surpreendentes caminhos das palavras. A magia de uma construção literária.

 

Pode-se ser o que quiser. Pode-se viajar por lugares nunca dantes imaginados. Pode-se ser quem escolher ser. A liberdade é irrestrita. Não tem um dono. Ou um tutor. Ou mentor. Também não importa.

 

Há o escrito. Há o leitor. Isso importa.

 

Lembrou-se daquele filme. Falava de escafandros e borboletas. E imobilizado – ele pensava. Não existe solidão para quem tem memória.

 

E ela ali. Sentadinha em seu terraço. Diante do sol. Sob o céu azul brilhante – concluiu.

 

A melhor embriaguês – é a composição de um texto.

 

 


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