Blog de Lêda Rezende

Abril 16 2009

Não dava para acreditar. Aliás. Dava para acreditar. Não dava era para compreender. Minha avó sempre me disse isso. Fique atenta no que acredita e não compreende, menina, fique atenta. Às vezes penso que escutei pouco a minha avó. Vai ver por isso encontro mais problemas. Que soluções.

 

O lugar era adequado. A cafeteria uma delicadeza. Isso sem falar naquele burburinho. Vozes sussurradas fazem mais efeito que gritadas. Todos ali sussurravam. Dando seu estilo musical nas entonações. Nos pequenos silêncios. Como uma partitura. Numa sequência sem maestro. Mas com cadência. Assim era o ambiente. Uma quase orquestra. De sons. E tons. Até de sotaques. Uma exposição cautelosa das idéias. Em pianíssimo. Em alegretto. Até cabia um allegro ma non troppo.

 

O olhar veio antes. Era um olhar lúdico. O corpo todo veio depois. Mas tinha uma sintonia com o olhar. Deveria ser mesmo um lugar que gostava. Que frequentava. Ou que tentava frequentar. Com o olhar percorria os lugares. E buscava o seu. Vago. Uma mesa. Uma cadeira. Um assento. Onde pudesse abrigá-los. Corpo e olhar. E o riso. Ria como se para alguém. Conclui.

 

Deveria ser o alguém interior. Uma daquelas comemorações festivas. Entre ego e superego. Ou entre ego e alter ego. Vai lá saber.

 

Algo de repente ficou errado. Nesse momento o olhar mudou. Já não era mais lúdico. Era um olhar envelhecido. Ele veio na direção dela. Com ar de desagrado. Gesticulando para ela. Com desaprovação. O corpo em sintonia com o olhar. Desagradável. O dedo substituiu a fala e apontou faltas. Muitas faltas. Faltava lugar. Faltava tempo. Faltava espaço. Parecia que apenas sobrava espera. Desconforto. E dedos. Ele gesticulava. Ela observava.

 

Parecia hesitante, mas atenta. Por segundos retirava o olhar dele e olhava o espaço. O ambiente. Ele insistiu.O olhar dela mudou. Era agora um olhar resignado.

 

Ele foi à frente. Deu as costas. Ela o seguiu. Iam sair. Fiquei pensando no porque da concessão. Nas mil razões das concessões. Durou pouco meu pensamento. Não cheguei nem na segunda razão. Até respirei aliviada. Vi que ela voltou. Voltou. Quase dei um pulinho da cadeira. Que teria acontecido. E com ela um novo olhar. Olhar de decisão. Ia ficar. Quase aplaudi. Me contive. Ele ainda ficou por um instante de pé. Diante dela.

 

Reprovou. Apontou. Resmungou. Acatou.

 

Enquanto ela sentava, ele foi buscar o café. Estava irritado. Expressão de tédio, como ela diria se o estivesse vendo. Pensei. Este deverá ser o café mais caro do planeta. Mas ela deve saber o que faz. E se tudo tem um preço, que seja pago antecipado. Acompanhado de uma parcela de prazer. Procede. E vai ver sempre tem uma forma de evitar juros.

 

Era alta. Magra. Elegante. Porte ereto. Gestual delicado. Fugia ao comum. Tinha cabelos brancos. Não tingidos. Longos. Presos com uma fivela sofisticada. Uma roupa despojada e adequada. Já sentada, sorriu. Para quem estava em volta. Me incluí. Elogiei a decisão. Fez um olhar de surpresa. Não se imaginava observada. Agradeceu. Com singeleza. Com tranqüilidade.

 

Ele vinha em direção dela. Segurando a bandeja. Tentando equilibrar irritação, aceitação, cobrança futura, café e bolinhos. Não devia ser fácil. A expressão estava insegura.  Desta vez ela o recebeu com um outro olhar. Olhar de irreverência.

 

Sabe-se lá porque perguntei se era escritora. Nem sei de onde tirei esta idéia. Mas perguntei. Ela respondeu. Com serenidade. Com uma voz firme. Não. Sou atriz. Devo ter feito uma coletânea de todos os olhares dela. Em mim. Ao mesmo tempo. Pelo jeito que ela me olhou. Sorri. E parabenizei. Com entusiasmo.

 

Lembrei da minha avó. Agora sim. Acreditei e compreendi. E o contrário também vale.

 

 


ola minha querida, comigo está td bem e cntg?
Tenho vindo postar sempre com pressa porque tenho uma data de coisas para fazer...
Mas então cm tens andado? Novidades existem? Quero saber tudo...
Beijos grandes e bom fim de semana
Teresa Isabel Silva a 17 de Abril de 2009 às 14:05

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