VIII
Leticia acordou tão de repente que até demorou a se convencer de que estava realmente acordada.
O dia que antecedera esta especifica noite havia sido exaustivo. Intercorrência parecia até uma qualificação de tantas que tivera que enfrentar.
Não faltaram sustos e tensões. E pensar que tanto desejara com a rapidez da semana para que a sexta-feira chegasse. A sexta feira chegou – mas trouxe anexos dispensáveis. Foi o que mais ou menos resmungou quando os anexos foram se apresentando um por um.
Quando organizou a rotina para sair foi até avisando às plantinhas – não esperem por mim porque hoje é sexta-feira – chegarei tarde. A Fadinha que sente e espere. E sorriu de si para si.
Fechou a porta – e desceu pelo elevador sorrindo para o espelho. Lá vamos nós – o alter ego e eu.
Mas não seria bem assim.
Começou desde o instante que chegou na Garagem. A agenda do dia estava sobrecarregada e começaria desta vez meia hora mais cedo – ou seja às seis e meia da manhã. Estava com os minutos contados mas iria de carro e não era longe de onde morava. Chegaria de acordo e no acordo. Caminhou apressada em direção ao carro - porém tranquila.
A pressa até continuou na sequência - o que desapareceu foi o tranquila.
Alguém estacionara o carro em frente do carro dela e levara a chave sabe-se lá para onde ou por quanto tempo. O Garagista foi convocado. Não sabia o que acontecera – no instante que estacionaram – ele não vira.
O Garagista olhava – coçava a cabeça - e caminhava em torno do carro invasor e obstrutor. Não sabia como resolver – não sabia a quem pertencia o objeto móvel. Para ela bastante imóvel - assim falou por entre os dentes com o suposto responsável pela garagem. Enquanto olhava para o relógio e já sob tensão tamanho extra GG explicou ao Garagista - num tom de voz bem mais audível - para caminhar em volta do carro e coçar a cabeça não precisaria tê-lo convocado. Faria isto eu mesma. Talvez seja melhor alguma outra ideia.
Como que despertado - desistiu da caminhada e dispôs-se a perguntar aos moradores pelo interfone. Assim fez e assim – finalmente resolveu. O usuário desatento não desceu. Desceram a chave. Alguém com pouca bravura por certo - mas com muita sabedoria - pensou a Leticia enquanto aguardava o carro ser retirado.
A questão cinética demorou quarenta longos e intermináveis minutos para se restabelecer.
Quando finalmente conseguiu sair – já estava atrasada e sabia muito bem o que a esperava.
Os atendimentos já se amontoavam.
Agiu como se nada fosse com ela – não iria participar de discussões nem de teorizações sobre hora agendada. Ou queixas sobre Garagem e Garagista. Simplesmente chamou o primeiro e deu seguimento na ordem que considerou pertinente. Atendeu com o bom humor de sempre e pareceu que estava tudo em harmonia - o tempo – o espaço – a individualidade – a coletividade. Quase uma Filosofia. Mas assim pareceu.
Mas nem tudo que parece harmonia faz parte da harmonia de tudo.
Quando conseguiu unir num mesmo passinho relógio e agenda – respirou.
Com a tranquilidade retomada começou a organizar a mesa com os papeis e as tabelas de atendimento. Sentiu um desconforto na cadeira e notou que estava mais baixa do que o habitual. Incomodava um pouco as costas. Com calma decidiu levantar um pouco o assento.
Ergueu a alavanquinha lateral que ficava sob o assento e - recebeu o encosto da cadeira de uma só vez – no rosto. Mais detalhadamente – recebeu a borda de ferro do encosto da cadeira no nariz. Em cima do nariz. Perfeito. Erguera a alavanca errada. O assento mesmo ficou lá na altura que estava. Nem se moveu. Mas o encosto foi obediente. Ao comando manual – obedeceu.
O sangue desceu rápido. As lágrimas solidárias desceram juntas. Uma bela parceria. A dor parecia que partiria o corpo em dois. Até lembrou a magia da caixa serrada com a mocinha de lantejoulas dentro. Se alguém errasse deveria ser assim a dor.
Colocou as mãos sobre o nariz e aguardou um pouco.
Quando o sangue parou – as lágrimas ainda continuaram. Ficou sozinha na sala. Olhando para a cadeira. Olhando para as mãos com sangue. Olhando até para as alavanquinhas. Sentia descer pelo rosto – quente - as lágrimas.
Respirou – não tão forte como gostaria porque a dor não permitia – mas respirou para se sentir ainda – qualquer coisa. Nem sabia que coisa queria sentir ou se sentir - mas respirou. Foi até a pia. Fez uma limpeza e colocou um pouco de água em cima do desacatado nariz. E ficou um pouco paradinha.
Passou o olhar rápido para a telinha do computador – e lá estavam amontoados mais uma vez os atendimentos.
Deu por encerrada a dor e dentro do que denominara de recuperada para a situação – voltou a chamar pela ordem de chegada. Antes - com muita cautela posicionou a cadeira da forma antes desejada. Nunca imaginara que teria medo de encosto de cadeira – mas foi o que aprendeu. Bem afastada e com todo o cuidado moveu as alavanquinhas e finalmente sentou.
Passando os dedos de leve pelo sofrido nariz – sentiu um pequeno inchaço. Considerou mais conveniente nem olhar num espelho. O espelho sempre pode piorar qualquer dor. Melhor evitar. Já teria o inevitável para dar conta – o olhar dos que entrassem na sala. Podia dispensar o próprio olhar.
Em resumo – uma tragédia – foi o que pensou um segundo antes da porta abrir e dar continuidade ao já estabelecido.
Prosseguiu no atendimento. Vez ou outra percorria o nariz com a pontinha dos dedos e parecia estar sob controle.
Num intervalo rápido optou por um café. Deveria estar mais atenta ao que não está em bom andamento e não sair da tal cadeira e de dentro da tal sala. Mas não. Lá se foi pegar o café. Escolheu um café duplo. A manhã precisava de uma dose maior de estímulo. Pegou o café duplo e sentou-se diante do computador. Apenas dois agendamentos aguardavam.
Levou a xícara aos lábios. Não passou – a xicara - do tórax. Escorregou por entre os dedos e desceu pela roupa da Leticia até o chão – onde se espalhou sem reservas.
Nunca esqueceria aquele instante.
Quando o café desceu pela roupa até o piso – todos os pensamentos passaram em desfile pelo cérebro e ao mesmo tempo nenhum pensamento passou. Uma sensação nova e estranha. O mundo parecia ter girado e ter parado. Impossível explicar. Mas foi o que sentiu – uma espécie de tudo dentro do nada.
Olhou para a roupa. Uma bata branca bordada. Linda. Mas com metade dela com café não pareceu tão linda.
Não sabia o que fazer. Este estado de catatonia deve ter durado segundos – mas ela se sentia como se tivesse saído da órbita e voltado no ano seguinte. Mas de volta – ainda bem apenas alguns segundos depois – chamou a mocinha da Recepção. Nem imaginava o tom de voz que usara – mas a mocinha subira duas escadas numa rapidez tamanha que parecia que estava na porta quando chamada.
Quando a olhou – riu. As duas riram. A responsável pela Limpeza foi chamada com urgência. Teria que limpar o chão e a mesa. Até dentro de uma gavetinha aberta tinha café. E ela ali – de pé com o nariz inchado e a roupa toda molhada de café. Um belíssimo dia.
A mocinha da Limpeza emprestou uma capa e levou a bata supostamente branca para lavar e secar. Ficaria pronta em uma hora. Certo. Obrigada. Riu enquanto limpavam toda a sala - a esta altura toda mesmo – cada um que pisava esbanjava marcas de café pela salinha.
Resolveu relaxar e tentar dar um pouco da tranquilidade que tanto desejara desde o momento que o carro fora impedido de sair. Já estava temendo ficar paranoica – mas recuou o temor. Por certo o dia correria melhor – já houvera novidades demais para tão poucas horas.
Prosseguiu conforme o previsto – torceu para ter encerrado a cota do imprevisto. Mas nunca se sabe o que os minutos trazem. Enfim. Fez a própria parte – já aprendera desde o dia da Televisão – há uma parte que se faz sozinha e outra que se faz compartilhado. Só não sabia que cadeira e café formavam uma parceria tão desastrosa.
Ia pensar sob o viés do inconsciente – mas desistiu com uma rapidez jamais creditada. Não se via em condições de reavaliar inconsciente. Que ficasse o nariz machucado e a bata cafeinada por conta de um possível chiste do Universo. Ela mesma – teria nada com isso a não ser por fazer parte da humanidade - ter um nariz e uma bata branca. Ponto final.
Com a bata branca já devolvida e devidamente incorporada à cor inicial – encerrou o dia e voltou para casa.
No carro arriscou pela primeira vez olhar-se no espelho. Estava lá somando-se ao ossinho do nariz a marca do tal chiste do Universo – mas não tão forte como supusera. Uma marca. Só isso.
Dirigiu com todo o cuidado e respirou – desta vez forte – e aliviada porque conseguiu chegar em casa. Iria subir – parabenizar a Fadinha e nada mais faria.
Não sairia. Nem à padaria que ficava em frente ao apartamentinho. Vai ver tem mais chistes por ai acumulado e o Universo resolve gastar todos com ela. Melhor mesmo ficar em casa conversando com as plantinhas e assistindo a algum dos filmes antigos que porventura tivesse esquecido. Ou dormir mais cedo por precaução – não por necessidade. Faria do horário infantil desta vez um horário apressado. Queria mesmo dormir logo.
Depois de tanta inquietude durante o dia de trabalho – de tanta tensão – sentiu-se realmente cansada. Muito mais do que o habitual.
Quando encerrou a rotina colocou um lencinho com gelo no nariz. Mas já impaciente – suspendeu o tratamento e deitou. Sentiu um conforto imenso no toque do edredom na pele e o aconchego do travesseiro em torno dos cabelos. Apagou a luz.
Recordou a cena do café derramado. A Corrida da Recepcionista. A Chefe da Limpeza subindo rápido para por na maquina de lavar e secar a bata. Ela de capa bege atendendo como se – a capa bege - fizesse parte do roteiro.
Com o pouco do humor que sobrou riu mesmo – melhor rir pelo café derramado do que chorar pelo leite derramado.
Depois desta pérola de raciocínio - concluiu que estava mal. Devia mesmo estar em situação de exaustão mental - para pensar tamanha bobagem só estando à beira da falência neuronal.
E de pensamento bobo a pensamento recriminador do pensamento bobo – Leticia dormiu.
A noite nem estava tão avançada quando Leticia acordou. E foi assim mesmo – acordou tão de repente que até demorou a se convencer de que estava realmente acordada. Abriu os olhos. Olhou em volta. Respirou. Sentiu o edredom na pele e o travesseiro nos cabelos. Mas estava suada.
Acordou sem saber o motivo – mas o motivo veio rapidamente objetivo e esclarecedor - sentiu algo estranho no corpo.
Estava com o coração aos saltos e pulos. Uma taquicardia acentuada a fizera acordar e agora a fazia se assustar. Nunca sentira algo igual. Nem nas etapas de mudança ou de abolição do previsto - sentira algo tão descontrolado no coração.
Passou as mãos pelo colchão e os braços voltaram com a resposta atualmente habitual. Estava sozinha.
Olhou para o telefone na mesinha de cabeceira e pensou – vou telefonar para eles. Desistiu. Deixa o telefone lá sossegado. Seria um susto e tanto que causaria a eles – no meio da noite. Tentou se acalmar e respirar com suavidade. Aquele deveria ter sido o Dia Nacional de Respirar. Quis respirar quando o assento da cadeira bateu no nariz. Depois quis respirar quando a dor passou. Foi um tal de respirar fundo e respirar raso que já estava até ficando monótono. Nunca solicitara tanto dos coitados dos pulmões.
Afastou o edredom e ficou decidindo o que faria.
Impossível não lembrar as amigas e os alertas sobre as pessoas que moravam sozinhas - de todo – encontradas mortas dias depois. Deu vontade sim – mas de telefonar para elas no meio da noite avisando o que estava sentindo. Principalmente para uma delas – a que mais falou e repetiu este anúncio de obituário incontáveis vezes. Até foi com a mão em direção ao aparelho – mas também desistiu.
Já estava mudando de sudorese para frio. Um frio percorreu a pele e a fez tremer um pouco as mãos e pés. Até puxou de volta o edredom.
Temeu já ter morrido. Temeu estar morrendo. Temeu estar enlouquecendo. Implorou estar sonhando.
Nada.
O coração estava mesmo em ritmo de corrida desvairada. Alguma atitude tinha que tomar. A respiração já estava fazendo parceria. Tudo estava acelerado.
Decidiu sentar. Sentou. Em seguida levantou com cuidado e caminhou em direção à cozinha. O coração parecia querer ir à frente. Até bendisse os cinquenta metros quadrados. Andaria pouco e já resolveria a situação. Vai ver era sede. Mas afastou este pensamento sem sentido. Desde quando o coração acelera porque se está com uma sedezinha banal no meio da noite. Nem que tivesse suado tanto assim. Mas podia ser.
Trouxe o pensamento de volta.
Naquela situação tudo servia de companhia – até pensamento errado ou sem sentido.
Acendeu todas as luzes.
Quem sabe a luz externa sugeria uma luz interna.
Bebeu a água – um copinho quase todo mesmo sem vontade.
Nada.
O coração continuou acelerado e sentiu uma delicada tontura. Não tinha jeito. Aliás – jeito tinha. Poderia chamar um daqueles atendimentos em domicilio. Não. Impossível. Sirene. Maca. Aparelhos. Enfermeiros. Médico. Seria muito barulho e por certo – por nada. Afinal se podia pensar tanto – mal de todo – não deveria estar.
O tal – de todo – a fez mais uma vez lembrar as amigas com o – sozinha de todo. Já estava mesmo era se irritando. As amigas dormindo serenas e equilibradas - e ela acordada com o coração aos saltos e aos pulos pensando nelas. Era só o que faltava. Baniu mais uma vez as amigas.
Iria ao Hospital. Passar a noite admirando e elogiando os cinquenta metros quadrados e bebendo água não parecia uma solução madura e menos ainda adequada. Muito mais insano seria ficar discutindo com as amigas enquanto elas – as amigas – dormiam acompanhadas e esquecidas dos mortais de sétimos dias.
A própria profissão da Leticia já a deixava em situação de ambiguidade – tanto ajudava quanto amedrontava. Sabia sobre riscos e riscos. A questão sempre estava na gradação. Ou pior ainda – no tempo entre o surgimento do sintoma e a instalação do tratamento.
Quando esta frase chegou ao cérebro consciente – ou mais ou menos consciente - decidiu chamar um taxi.
Ligou para a Portaria e avisou - preciso sair para um atendimento e não quero dirigir a esta hora. Por favor - chame um taxi e me avise quando chegar. Mas vou tentar descer logo. Está tudo bem sim – obrigada.
Mudou a roupa. Pegou a identificação. A Carteirinha do Seguro Saúde. Ate passou batom. Se era para ser – que fosse com elegância. Olhou para o espelho e lembrou da manhã. Do nariz coitado espancado – e a recusa em se olhar no espelho. Até vingança do espelho inventou. Lembrou de um comentário que fizera quando recebeu o encosto da cadeira no nariz - o espelho sempre pode piorar qualquer dor. Era a Vingança do Espelho.
Estava bastante criativa. Nem poderia imaginar que o temor produz criatividade. Ou que coração acelerado também acelera a intensidade da imaginação. Deu um sorriso para o espelho – um sorrisinho tão sem graça que até teve a impressão de ver o espelho entristecer e querer chorar.
Fechou a porta do banheiro e deixou o espelho lá preso junto com as possíveis lágrimas e vingancinhas.
Arrumada – apagou as luzes e desceu.
No elevador o coração aumentou mais ainda a corrida entre uma batida e outra. E teve a sensação de que as batidas estavam já se atropelando.
O taxi chegou – a porta do Hospital também não demorou a chegar.
Desceu e se identificou. Tinha um amigo de Plantão. Ai sim – respirou fundo e leve.
Ele que sempre fora bem humorado – manteve o estilo. Foi logo dizendo – então é assim. Quando soube que o Plantão estava calmo e que eu poderia até dar uma dormidinha veio me acordar. Ela riu. Lembrou o espelho trancado. Ainda bem.
Ele a examinou. Fez exames específicos. Perguntou pelo dia de trabalho que antecedeu a tal maratona cardíaca. Perguntou pelos recentes acontecimentos. Ela foi sucinta. Ele foi pragmático. Mas contou sobre o nariz - que recebeu de imediato uma radiografia - e do café. Este recebeu de imediato – uma gargalhada. Encerrou o interrogatório semi-oficial perguntando por que viera sozinha. Avisou que não quis acordá-los e assustá-los. E já estava no Hospital – o Lugar correto para dar uma definição real. Caso fosse mesmo necessário – esperaria o dia amanhecer e avisaria a eles.
Os exames específicos chegaram. Tinha sido realmente uma aceleração – mas sem lesão orgânica e sem sequelas. E já estava estabilizado. Talvez um sonho. Ou a agenda exaustiva do dia. Medicou um relaxante e a dispensou sorrindo – agora vou dormir. Não me apareça aqui de volta. E deu um abraço solidário na Leticia. Autorizou a um dos motoristas do Hospital a levá-la de volta em casa. Avisou que telefonaria para ela pela manhã para confirmar se estava tudo bem.
De volta para casa – repetia para si mesma esta frase. Estou voltando para casa. Estou voltando para casa. Precavida - sorria de cantinho e do lado que o motorista não percebesse. Vai lá que pensa que a aceleração era mental e a leva de volta para alguma sedação. Nem pensar. Só queria chegar em casa - e destrancar o coitado do espelho e se recobrir com o edredom.
Agradeceu ao motorista. Agradeceu ao Porteiro. Saiu agradecendo até às paredes do prédio. Agradeceu ao elevador. Agradeceu ao interruptor quando acendeu as luzes. Agradeceu aos cinquenta metros quadrados. Agradeceu à Fadinha. Agradeceu às plantinhas. Só não listou agradecimentos às amigas funestas.
Abriu a porta do banheiro. Sorriu para o espelho que pareceu ficar feliz.
Deitada na cama – enfim respirando sem preocupação se leve ou profundo – passou a mão pelo colchão. O braço trouxe a resposta habitual. Mas desta vez com uma nova leitura. Fizera o que deveria ser feito. Enfrentara o que deveria ser enfrentado e mesmo diante de tanto susto – soubera dosar as necessidades e as faltas das mesmas necessidades. Estava aprendendo rápido.
Tentou resgatar na Memória se tivera mesmo algum sonho – como o amigo do Plantão sugerira. Abraçada ao edredom - alguns fragmentos vieram. Tentou recompor com mais particularidades - mas desistiu. Melhor não repetir o dano. Vai lá que da segunda vez não escapa – e se era para ser esquecido que ficasse esquecido na totalidade e de uma vez.
Lembrou-se do Freud. Formulou algumas frases para ele e sobre ele. Mas nada gentil ou afetuoso que o agradasse escutar ou saber - se vivo estivesse. Riu.
Sentiu o frio da madrugada. Quando encontrasse com eles contaria sobre o dia e sobre a noite. A Lilian mandaria contar na ordem inversa – sobre a noite e sobre o dia. A ele contaria apenas sobre o dia. Às amigas funestas nem sobre a noite nem sobre o dia.
Ao espelho agradeceria. A ele contaria sobre muitos dias e muitas noites.