Blog de Lêda Rezende

Julho 08 2009

 

Não pude deixar de lembrar o poeta. Aprendi. A entender os poetas.

 

Eles devem ser uma obra pessoal do Criador. Vêm em nosso auxílio em momentos que não adivinhamos. Com seus versinhos delicados. Com sua forma singela de escrever. Deixam ali. Escritas. Gravadas. Suas mensagens.

 

Nada demandam. E tanto oferecem. Entendem da dor. Do amor. Da saudade. Deixam seus recadinhos. Modestos. Para que possam ser utilizados nos momentos adequados.

 

E que cada um escolha o seu verso. Já que dos momentos - não se tem escolha.

 

Nunca amei tanto os poetas quanto hoje. Nunca me curvei com tanta deferência diante deles.

 

De repente do riso fez-se o pranto.  

 

E uma enorme tristeza veio. Ocupou – ou tentou ocupar - um espaço bem menor do que ela. Faltou corpo. Faltou alma. Para dar conta de tanta dor.

 

A notícia veio rápida. Ela se foi. Passava no momento errado. No lugar errado. E se foi. Assim.

 

Não parecia verdadeira. Não parecia possível. Parecia com nada.

 

Só a memória iniciou seu comando. Com a mesma rapidez. Fez-se dona da dor. Reconheceu e registrou a perda. De imediato. E comandou. Solitária.

 

É triste a perda da parceria das lembranças. Pode tudo ser recontado. Nunca mais, porém, partilhado. Ou compartilhado.

 

A história não se escreve com duas mãos. Ou com uma idéia. É escrita a partir de quatro mãos. E um povoamento de idéias. Se não - sobra história e falta documentação. Da possível ratificação. Falta o riso solto - eu também me lembro. Falta a lágrima solidária - eu também não esqueço. Falta até o simples diálogo - nós estávamos lá na época. Agora já não há mais com quem dividir. Ou duvidar. Ou esclarecer.

 

Assim as lembranças chegavam. Desordenadas. Fora de organograma e cronologia. E os versos dos poetas se interpondo. Como um trançado. Por onde a dor, se ramificando, também se amparava. Ou tentava se amparar.

 

Como recobrindo este muro tão rapidamente desnudado.

 

Veio à mente as palavras do escritor preferido. Ele - contras as intermitências. Do susto inadmissível pelas perdas. Talvez da complexidade de um luto. O susto teria que ser se não houvesse jamais a perda. Se viesse um aviso. Este aqui não irá.

 

Na época que li – pensei. Talvez numa briga egoísta e pretensiosa. Com um autor daquela dimensão. Ele escreve muito bem.  Mas entende nada de perda.

 

Sim. Pretensiosa.

 

Mas talvez tenha um adendo. A questão pode ser – também - outra.

 

Também. O saber desde sempre da futura perda não faz menor a vulnerabilidade. A nada. Talvez todo o saber aja ao contrário. Exista para isso. Para expor a vulnerabilidade. Quanto mais saber - mais vulnerabilidade. Como leitores de dicionários. Substituindo um por um dos mistérios - para multiplicar significados. E vice-versa.

 

Não o quando. Não o se. Mas o como. As tantas formas das perdas. Carregadas de mistérios. E mal completadas – já sobrecarregadas de significados.

 

Há um hiato. Entre o momento da partida e o momento da perda. Não é igual. São momentos registrados de formas diferentes. Antônimos.

 

A toda perda corresponde um excesso. De silêncios. Do que não foi dito. Do que não foi confirmado. Até de um tempo perdido. Uma angústia se somando à outra. Na individualidade da solidão. As desculpas. As culpas.

 

Como se simples operadores de registros todos fossem.

 

O que faltou dizer, se transforma em companhia. Em relatos.  

Como uma necessidade para que o luto possa se processar. E a manhã possa continuar.

 

E até mais, minha querida amiga.

 

 

publicado por Lêda Rezende às 22:45

Lêda, o meu blog é que é bom mesmo??? Não, o teu blog é que é muito bom mesmo.
sara maria a 9 de Julho de 2009 às 19:32

Blog de Crônicas - situações do cotidiano vistas pelo olhar crítico, mas relatadas com toda a emoção que o cotidiano - disfarçadamente - injeta em cada um de nós.
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