Blog de Lêda Rezende

Setembro 08 2009

 

Ficou um tempo buscando uma palavra. Uma.

 

Mas que pudesse denunciar. Que funcionasse. Isso. Uma palavra funcional. Eis a qualificação perfeita.

 

Mas nada é perfeito. Faltava a palavra.

 

Era momento de comemoração. Sentia isso. E se desentendia.  Se sentia – por que não conseguia  decodificar.  Lembrou que fez um chiste para ele. E se a anestesia anestesiou as  minhas ideias. Sempre se corre qualquer tipo de risco. Diante de qualquer tipo de intervenção. E nem tudo no mundo é orgânico.

 

Ele - artista – sabe ler o avesso do avesso de um prisma. Não busca potes. Nem duendes. Cria o ouro de dentro das cores.  Já foi logo recusando a ideia proposta. Comparou até a resistência a cianetos.

 

Ela riu. Se sentiu medicada.

 

Queria muito poder esclarecer. Esclarecer nem sempre é prerrogativa de problema. Ou de formal. Pode ser apenas uma porta. Um portal. Exagerada do jeito que sempre foi - substituiu. Acrescentou.  Esclarecer é como um arco. Um arco de triunfo. Real.

 

Pensou em dicionários. Mas eles só contem verbetes. E não seria o caso. De verbetes o mundo está cheio. Deve mesmo estar faltando é palavra. Pode parecer uma mesma significação. Mas a tradução é diferente.

 

Um verbete explica. Ordena. Racionaliza.

 

Uma palavra implica. Desorganiza. Emociona.

 

Morava longe. Um mar além. Uma distância que se media em águas e espumas. Com ondas e com calmaria. De lá para cá muito se fez. E de cá para lá muito se refez.

 

Nem sabia mais quando começara. Muito menos como. Mas se comunicavam. Por isso ela avisara. Vou dar uma sumidinha. Desta vez a questão é corporal. Notaram um excesso. Vão localizar a possibilidade de falta. Quando puder retorno. Assim. Um recadinho para ele. E para os mais próximos. Sem importar quantas marés depois seria entregue a mensagem. Seria entregue.

 

Ele foi solidário. Escreveu. Ponderou. Gracejou. Reclamou. Até se auto intitulou. Neurastênico. Estou neurastênico. Onde já se viu. Um artista. Que doa cor a ouro. E o contrário também. Que entende de avesso. Se chamar de neurastênico. Assim.

 

Viu todos os recadinhos de uma vez. Quando os excessos foram retirados a e as faltas perdoadas.

 

Leu. Adorou. Festejou. Mas se sentiu menos. Continuava sem encontrar a palavra.

 

Até se revoltou. Quase praguejou. Já estava perdendo até a classe. Renegou a própria profissão. Queria mesmo era ser inventora. Não para construir máquinas. Queria criar uma retórica nova. Para o agradecimento exprimir.

 

Queria um poder. Uma magia. Fantasia. Inspiração.

 

Pediu tudo que vinha à mente. Olhou para cima. Até para baixo. Pegou uma caneta. Vai ver assim facilita. Caneta e papel à mão. Ficou ali. Parada.

Em busca da tal palavra. Que revelasse toda a emoção. Sem freios. Sem contenção. Mas nada aconteceu.

 

Teve uma ideia. Alternativa. Poderiam ser símbolos. Quem sabe. Um símbolo muitas vezes vale por muitas palavras. Muito mais que apenas uma.

 

Ainda sem solução. Nada entendia de símbolos. E símbolo lembrava matemática. Ela odiava matemática. Fingiu resignação.

 

Pensou. Outra alternativa. Quem sabe uma tela. Poderia desenhar com exatidão. E numa única aquarela fazer brilhar a verdade da gratidão.

 

Mas... impossível criar. Vai ver tem mais faltas que pensava.

 

Nem cores. Nem flores. Nem Semiologia nova. A criatividade não devia mesmo ser seu forte.

 

Lembrou da avó da amiga. Ela dizia. A repetição também tem as suas singularidades, menina, a repetição também tem as suas singularidades.

 
Aceitou. Andava bem obediente nos últimos dias.

 

Talvez uma só palavra. Há muito já inventada. Talvez - em sua simplicidade - resuma o desfecho. E permita todo esse difícil traduzir.

 

Mais tranqüila virou-se em direção ao mar de lá. Por cima de ondas e marés altas. Abaixou-se diante da leveza de um corajoso barquinho de papel. Colocou uma garrafinha com seu bilhetinho dentro. Manuscrito. Com cuidado. Letrinha por letrinha. Qual um bordado. Escreveu.

 

Obrigada.

 

 
 

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