Blog de Lêda Rezende

Abril 28 2009

Estava assustada. Com a conclusão a que chegara. Cada coisa que acontece. Cada surpresa. E as surpresas só chegam de forma tortuosa. Pode-se mesmo dizer assim. Forma tortuosa. Nunca soube de alguma surpresa linear.

 

Sempre tem que fazer com o que surpreendido dê lá seu pulo. E que pulo. Tem gente que até torce pé. Joelho. Quebra louça. Freia carro na hora errada. Cada um com sua surpresa. E tudo depende do que está a se fazer na hora. Que a surpresa chega.

 

Com ela não foi diferente. Estava trabalhando. No estilo nada como um dia após o outro. Mais rotineiro impossível. Trabalhar. Atender. Tocar o dia como dizem os mais práticos. Assim. Com seguimento em agenda.

 

E foi diante desse cenário nada emocionante que se deu a tal surpresa. Deu um pulo tão grande da cadeira que até derrubou um vasinho de flores. Foi assim. Começou pela falta. De luz. E clareou todo o ambiente. Como podia não ter notado. Desde a primeira surdez. Desde a primeira amnésia. Ai riu.

 

Amnésia serve para isso. Para ocultar. Mesmo o que nem sempre deveria ser ocultado.  Ou poderia.

 

Ela avisara. Chega de nome antigo. Vamos mudar para o nome atual. Para o que pareceu tão desejado. Foi o que pareceu na época. Vamos acreditar que aquela vontade procedia. Senão fica parecendo que não procedia. Que foi coisa impensada. Coisa de imaturidade. Sem propósito definido. E por isso virou faz-de-conta-que-não-houve. Nada disso. E retomou a decisão.

 

Não sabia se tinha retomado. Nem se era decisão. Só sabia que tinha que ser assumido. Fez o que ela não fez.  Leu o documento. E fez o orientado. Pelo documento. E atualizou o nome dela. Numa conta de luz. Simples.

Era sempre tipo qualquer dia. E os dias foram passando. Num dia esquecia. Em outro não lembrava. Parece a mesma coisa. Mas não é. Entre o não lembrar e o esquecer corre um fio. Um fio que circula e embaralha os atos. Mais ou menos isso que concluiu.

 

Em meio a uma surpresa, as idéias correm aos atropelos.

 

Mas assumiu. Pelo menos diante de si mesma. Acatou. Resolveu. E depois leu. O novo nome impresso. Gostou. Foi o que compreendeu quando leu. O próprio nome.

 

Daí em diante foi um tal de troca e aviso. Uma alteração atrás da outra. De atos conseqüentes. Atualização de documentos. Cancelamentos de outros. Renovação de mais alguns. Foi tão grande a tal iluminação mental e ambiental que acabou em salão. Salão de beleza. Foi cortar o cabelo. Mudou a cor habitual das unhas. Comprou roupa nova. Refez até o cartão de visitas. Esse um dos maiores impactos. Como pode. Ficar tantos anos se apresentando com um nome que tinha pedido para retirar. Mas se auto-desculpou. É mesmo difícil. Concluir que se está por sua própria conta e autoria. Depois de tanta tutela que se passa. Podia dizer que estava começando a se entender. Com ela mesma. E depois de tantos anos. E se parabenizou.

 

A última pequena surpresa foi a conclusão. Das surpresas. Fora preciso o empurrão dela. Que nem participara do evento anterior. Da época em que solicitara a tal retirada do nome. Nome.

 

Parece simples. Parece que é só mudar. Parece que é habitual. Parece que é apenas seguir uma lei. Um protocolo. Uma decisão judicial. Tudo isso é verdade. Mas um nome ou a retirada dele é um processo. Não orientado por diretrizes. Mas por uma outra Lei. A Lei do emocional. Do aceitável. Do ego. Ai cabe até vinganças e pequenos ódios. Ou pequenas revanches.

 

Tudo isso pensou. Tudo isso concluiu. E olhou mais uma vez para o novo cartão de visitas. Para as unhas com uma nova cor. Passou a mão pelos cabelos.  Desta vez feliz. Se sentindo mais.

 

E seguiu - desligando algumas luzes.

E acendendo outras.

 


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